O que faz o Ceará ser líder isolado na produção de camarão?
Indústria

O que faz o Ceará ser líder isolado na produção de camarão?

Ceará adota medidas para superar obstáculos e buscar novos mercados para ajudar a alavancar o consumo do crustáceo no Brasil

23 de agosto de 2024

No futebol, um líder isolado não vê ninguém em sua cola e mantém uma vantagem confortável sobre os concorrentes. Se aplicarmos essa analogia ao camarão, a hegemonia é do Ceará. Quem está na posição sabe, no entanto, que conservar a liderança é quase tão difícil quanto conquistá-la, tamanho os desafios que se apresentam. A produção de L. vannamei do Estado somou 113,3 mil toneladas em 2022 – quantidade 5,9% maior comparada ao ano anterior – e o Ceará foi responsável por 61,3 mil toneladas, 54,1% do total produzido no País. Os dados são da última Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na sequência, aparecem o Rio Grande do Norte (25,2 mil toneladas) e a Paraíba (7,2 mil toneladas). Entre os 10 municípios com as maiores produções de camarão do Brasil, oito estão no Ceará, o que evidencia a hegemonia do Estado na atividade. No pódio nacional, Aracati (CE) lidera essa produção com 12,7 mil toneladas, seguido por Jaguaruana (CE) com 8,5 mil toneladas e Pendências (RN) com 7,8 mil toneladas.

A carcinicultura cearense está em um momento crucial e atrativo a novos entrantes. “O Ceará foi uma grande surpresa para nós: em 2017, fizemos um censo que registrou 700 produtores. Já em 2021, esse número subiu para 1.860 produtores”, frisa Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC).

Os censos da carcinicultura dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, com informações referentes aos anos de 2020 e 2021 da ABCC revelam que a criação de camarão no Estado se intensificou principalmente nos últimos 5 anos, quando 54,5% das fazendas foram instaladas. Conforme o presidente da ABCC, esse aumento significativo ocorreu sem incentivos financeiros ou programas governamentais, refletindo um empreendedorismo nato e uma capacidade de adaptação dos produtores às águas interiores. “Quando você analisa como esses produtores cresceram e qual foi o incentivo? Não teve nada e cresceu. Um sinal claro de que a atividade realmente encontrou no Ceará uma força motriz para o seu desenvolvimento”, comenta Rocha.

"Esse crescimento no número de produtores está baseado quase que totalmente em micro e pequenos. Áreas antes exploradas por agricultura e pecuária convencional agora produzem camarão, pois foi descoberto que o camarão também cresce em águas de baixa salinidade", completa Luiz Paulo Sampaio Henriques, presidente da Associação dos Produtores de Camarão do Ceará (APCC) e da Cooperativa de Produtores de Camarão do Ceará (Copacam). Para Henriques, esse desenvolvimento ainda está amparado em experiências de anos e na desmistificação de que a carcinicultura era uma atividade que exigia grandes investimentos e pacotes tecnológicos complicados. “Para alcançar o conhecimento e o pacote tecnológico de produção que temos hoje, foi necessário muito investimento e trabalho de alta qualidade técnica, ajustando a carcinicultura aos moldes atuais no Brasil.”

Velhos vilões

Apesar da notoriedade da atividade no Estado, a carcinicultura ainda enfrenta desafios significativos, como questões de sanidade, já que, nos últimos anos, o Brasil sofreu surtos de ISKNV e da doença da Mancha Branca. Além disso, para Itamar Rocha, da ABCC, outra pauta urgente para a entidade é a tentativa de suspensão das importações de camarão do Equador [leia mais em MKT & Investimentos na Seafood Brasil #54 na página 30] e a falta de licenciamento ambiental. “Mais de 80% dos produtores de camarão do Ceará, em 2021, não tinham licença", lembra.

Por isso, os representantes estimam que, associado a outras medidas, um aumento do apoio governamental impulsionará mais o desenvolvimento do setor. “Esperamos um crescimento de 180 mil toneladas em 2023 para 220 mil toneladas em 2024. O mercado interno tem potencial, e vemos oportunidades na China, onde há demanda por camarões menores”, diz Rocha. “Precisamos licenciar todos os produtores, impulsionando um segundo grande passo para a carcinicultura cearense”, completa Luiz Paulo Sampaio Henriques, da APCC.

Cooperar para solucionar

Neste cenário de desafios, o tamanho da cadeia de comercialização também é preocupante, pois ela ainda é muito longa e prejudicial à atividade. Se o camarão cearense passa por várias mãos até chegar ao consumidor, como sempre, é o produtor quem menos ganha nesse sistema. Nesse sentido, Luiz Paulo Sampaio Henriques pontua que a única forma de conseguir quebrar esse modelo é levar o produto o mais próximo da ponta possível. Pensando nisso, foi fundada a Cooperativa dos Produtores de Camarão do Ceará (Copacam).

Com um pouco mais de 2 anos de existência, a Copacam aposta no cooperativismo para fomentar a cadeia produtiva de camarão cearense e alcançar grandes mercados. "Estamos comercializando há 1 ano e meio e já temos filial em São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Curitiba e Maringá (PR). Formada por pequenos e médios produtores, somos 34 ao todo em uma área de 500 hectares, com produção média de 200 toneladas de camarão por mês", explica.

A Copacam recebe o camarão do cooperado, manda para a indústria de processamento terceirizada e embala com sua própria marca Copacam e comercializa no food service e varejo. O diferencial, conforme o presidente da Copacam, está em embalagens com fração específica. "Nosso objetivo é popularizar o consumo. Nesse sentido, nós temos uma embalagem para autosserviço de 200 gramas", finaliza Henriques.

Essa matéria é o Texto 1 da série "Ceará, o líder absoluto na carcinicultura brasileira" e integra a matéria de capa da Seafood Brasil #54. Clique aqui e leia na íntegra.
 
Créditos da imagem: Seafood Brasil

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