Tensão econômica: os impactos no consumo, comércio e reputação nos EUA
Comercialização

Tensão econômica: os impactos no consumo, comércio e reputação nos EUA

Este é o primeiro de uma série de artigos que analisam os desdobramentos da atual tensão econômica nos EUA

Abraão Oliveira - 24 de julho de 2025

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Os Estados Unidos enfrentam, em 2025, um dos momentos mais imprevisíveis de sua história econômica recente. Com Donald Trump de volta à presidência e exercendo com intensidade sua agenda tarifária, o país mergulhou em uma nova fase de incerteza interna e externa, marcada por oscilações no comércio, nas expectativas de consumo e na posição internacional do dólar.
 
As tarifas impostas pelo governo visam conter o déficit comercial estrutural — que atingiu US$ 96,6 bilhões em maio de 2025, segundo o U.S. Census Bureau — e proteger empregos industriais considerados “estratégicos”. Contudo, o efeito imediato tem sido um aumento da instabilidade nos fluxos globais de comércio, a multiplicação de retaliações por parte de países parceiros e o encarecimento de bens importados.
 
O retorno dessa agenda ocorre em um contexto ainda mais delicado: o mundo já atravessa uma transição geoeconômica complexa, descrita por instituições como o FMI e o Peterson Institute for International Economics como o início de uma era de fragmentação estrutural da economia global. Nesse cenário, o avanço do BRICS, com sua ampliação, mecanismos financeiros alternativos e crescente influência política, é visto pela Casa Branca como uma ameaça direta à hegemonia americana.
 
Mais do que disputas comerciais, o que está em jogo é a reconfiguração da ordem econômica mundial. E em meio a esse realinhamento, um novo elemento chama atenção: a percepção internacional sobre os EUA começa a mudar. Segundo a revista The Economist, a postura errática do governo Trump está prejudicando a confiança nos ativos americanos e enfraquecendo a reputação do país como referência de estabilidade.
 
Este relatório, que será publicado em diferentes artigos, busca oferecer uma visão clara e fundamentada — sem projeções especulativas — sobre os movimentos em curso, a partir de dados concretos e análises institucionais recentes. Ao longo dos próximos capítulos, vamos examinar:
 
- O comportamento atual das famílias americanas frente à inflação e ao crédito caro;
- Os setores que têm sentido mais fortemente o impacto das tarifas e do dólar instável; 
- A expansão do BRICS e sua relação com a reação estratégica americana;
- E os efeitos dessa turbulência sobre o equilíbrio econômico internacional.
 
O objetivo não é antecipar cenários, que mudam a cada semana, mas registrar com precisão o que já está em curso. Em tempos de instabilidade, compreender o presente é o primeiro passo para qualquer decisão estratégica bem informada.
 
O CONSUMO DAS FAMÍLIAS AMERICANAS: RESILIÊNCIA EM MEIO À INCERTEZA
 
Apesar da turbulência nos mercados e da instabilidade nas políticas comerciais, o consumo das famílias americanas segue sendo um pilar central da economia dos EUA em 2025. No entanto, os dados mais recentes revelam sinais de desgaste e moderação, especialmente em setores sensíveis ao crédito, à inflação e à confiança do consumidor. 
 
Este capítulo reúne os principais indicadores oficiais e privados que acompanham o comportamento do consumidor, permitindo uma leitura objetiva do momento atual.
 
1. Números de Vendas no Varejo – U.S. Census Bureau
 
Em junho de 2025, as vendas no varejo e serviços de alimentação dos Estados Unidos totalizaram US$ 705,6 bilhões, segundo o relatório mensal do Census Bureau. Isso representa uma alta de 0,7% em relação a maio, e um crescimento anual de 3,1% em relação a junho do ano anterior.
 
Quando excluímos a venda de veículos automotores — setor altamente sensível ao crédito — o crescimento mensal foi mais modesto, de apenas 0,3%. Os autores do relatório apontam que o consumo se mantém positivo, mas há indícios de que os gastos com bens de maior valor e durabilidade estão sendo adiados ou redirecionados para itens essenciais ou de uso cotidiano.
 
Census Bureau – Vendas no Varejo e Serviços de Alimentação (Jun/2025)
 
Vendas totais: US$ 705,6 bilhões
Variação mensal: +0,7%
Variação anual: +3,1%
Excluindo automóveis: +0,3%
 
2. Retail monitor – CNBC/NRF & Affinity Solutions
 
Com base em mais de 140 milhões de cartões e 9 bilhões de transações reais, o Retail Monitor da National Retail Federation traz uma fotografia detalhada do consumo em tempo real. Os dados de junho revelaram uma queda mensal de 0,32% nas chamadas “vendas core” — aquelas que excluem automóveis, gasolina e restaurantes — contrastando com os três meses anteriores de alta.
 
Por outro lado, a comparação anual ainda mostra crescimento: +3,36% em relação a junho de 2024. Setores como produtos digitais (+24,1%), artigos esportivos (+8,5%) e cuidados pessoais ainda registram aumento de consumo, mas móveis (−1,0%), eletrodomésticos (−1,0%) e materiais de construção (−0,8%) seguem em retração.
 
Segundo os organizadores do estudo, isso sugere um rearranjo nos hábitos de consumo: as famílias continuam comprando, mas priorizam itens de menor risco financeiro, uso imediato ou entretenimento doméstico. O setor de bens duráveis é o primeiro a sentir os efeitos da insegurança econômica.
 
CNBC/NRF Retail Monitor (Jun/2025)
Fonte: dados agregados de 140 milhões de cartões
 
Variação mensal (core retail): −0,32%
Variação anual (core retail): +3,36%
Setores em queda: móveis (−1,04%), eletrodomésticos (−1,03%), construção (−0,76%)
Setores em alta: produtos digitais (+24,1% YoY), esportes/lazer (+8,5%), alimentação (+2,5%)
 
3. Índice de confiança do consumidor – Conference Board
 
O Consumer Confidence Index da Conference Board, publicado em junho, reforça o cenário de dualidade. O índice geral caiu para 100,0 pontos, abaixo dos 102,0 registrados em maio, com destaque para a deterioração das expectativas futuras, que chegaram a 73,8 pontos — patamar considerado historicamente como sinal de alerta para possível desaceleração.
 
Enquanto isso, a percepção sobre a situação atual permanece elevada, com 142,5 pontos, indicando que muitas famílias ainda sentem segurança para consumir no presente. A combinação entre presente positivo e futuro incerto sugere um ambiente de resistência econômica imediata, mas com forte tendência à cautela. A própria Conference Board afirma que valores abaixo de 80 no índice de expectativas costumam estar associados a ciclos de retração.
 
Consumer Confidence Index – Conference Board (Jun/2025)
 
Índice geral: 100,0 (queda ante 102,0 em maio)
Situação atual: 142,5 (ainda forte)
Expectativas futuras: 73,8 (abaixo de 80 = sinal de alerta)
 
4. Um consumo que resiste, mas não avança com confiança
 
Tomando em conjunto os três principais indicadores analisados, os números já indicam mudanças importantes no comportamento das famílias americanas.
 
Por um lado, a economia americana segue gerando empregos, com as famílias com condições de manter seus gastos no curto prazo. Isso explica por que as vendas totais no varejo continuam crescendo e por que o índice que mede a percepção do presente ainda está em patamar elevado.
 
No entanto, com o recuo do índice de expectativas, percebe-se uma mudança do padrão do consumo para uma postura mais defensiva, priorizando itens de necessidade imediata, produtos digitais, cuidados pessoais e lazer acessível, enquanto adiam decisões de compra que envolvam crédito, risco ou compromissos financeiros maiores.
 
Como destacou a Conference Board, a queda das expectativas abaixo de 80 pontos é um sinal estatisticamente associado à possibilidade de retração futura, uma transição silenciosa, cuja velocidade e a profundidade são imprevisíveis.
 
Este é o primeiro de uma série de artigos que analisam os desdobramentos da atual tensão econômica nos Estados Unidos. Acompanhe a continuação nas próximas publicações.
 
 
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Créditos da imagem: Canva
 

Sobre Abraão Oliveira
 
  • Engenheiro de pesca com mestrado em agronegócio e especialização em fluxos comerciais de pescado. É fundador da consultoria ProjePesca e cofundador da JubartData, que possui diversas empresas internacionais em seu portfólio. Atua como consultor de inteligência de negócios para empresas de pesca.
 
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