Pesca de atuns e afins: um olhar para o Atlântico Sul
Presidente do Sindipesca-RN aponta a importância de uma abordagem ampla e colaborativa para enfrentar os desafios
15 de abril de 2024
No cenário geopolítico das capturas, as pescarias de atuns e afins no mundo e, particularmente no Atlântico Sul, estão cada vez mais intensas, com os estoques se mantendo enquanto os controles são aprimorados. Porém, ao mesmo tempo, a disputa política pela ocupação desses espaços e pela participação nos estoques internacionais vem se intensificando e se tornando cada vez mais restrita.
A divisão das cotas de capturas de atuns e afins costuma ser debatida em fóruns internacionais, como é o caso da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT), onde países com tradição mantêm uma participação elevada, baseada principalmente em critérios históricos. Por outro lado, nos últimos anos, os países em desenvolvimento, especialmente os costeiros do Atlântico Sul, têm buscado ocupar esses espaços. “As cotas os estoques são limitados. Então, há hoje um cenário mais complexo e mais competitivo”, explica Gabriel Calzavara, presidente do Sindicato da Indústria de Pesca do Rio Grande do Norte (Sindipesca-RN).
Diante desse novo cenário, para Calzavara, é fundamental uma preparação “diplomática” e uma gestão interna eficaz para “brigar” por cotas dentro desses fóruns. “No caso do Brasil, falando de captura e de estruturação interna, nós estamos muito aquém das condições necessárias para que a gente possa ampliar nossas cotas e, pior ainda, manter as que nós conseguimos até hoje”, lamenta.
O presidente do Sindipesca-RN alerta que o País corre o risco de perder cotas de captura do espadarte (X. gladius) e da albacora branca (T. alalunga) porque, conforme ele, as pescarias brasileiras não conseguiram capturar essas cotas, enquanto há um problema de excedente de captura de albacora-bandolim (T. obesus) - o que também pode se refletir nas cotas de albacora laje (T. albacares). “Do ponto de vista interno da gestão pública, nós estamos totalmente desestruturados para poder enfrentar esse desafio”, comenta.
Desse modo, para ele, as ações para resolver essas e outras questões dependem principalmente do poder público e de uma política que forneça diretrizes claras e normatizações alinhadas a um Plano de Desenvolvimento para atividade. “Estamos tratando de um recurso público e numa área geopolítica pública e internacional. E quando a gente disputa com esses países, com essas frotas, nós estamos totalmente desprovidos. Nós, empresários e empreendedores da pesca, precisamos que o governo diga para onde vai e discuta com a gente para onde queremos ir”, destaca.
Para os saltos, as ações
Se os controles de captura, monitoramento e gestão eficaz são partes essenciais para obtenção de uma pescaria sustentável, privilegiar e apoiar aqueles que praticam a pesca de maneira correta também é uma das ações fundamentais, conforme o presidente do Sindipesca-RN. Além disso, é preciso, obviamente, ter uma estatística pesqueira. “Você não pode fazer um Plano de Desenvolvimento sem uma estatística pesqueira e estimular justamente a atualização de uma frota que está totalmente desatualizada”, analisa Gabriel Calzavara.
Neste sentido, o desenvolvimento de um trabalho do Sindipesca-RN, a criação da Aliança do Atlântico para o Atum Sustentável (AAAS) e parceria com instituições de pesquisa têm contribuído para ações que visam o desenvolvimento de controles de monitoramento da atividade pesqueira na região. “Agora, nós precisamos dar um salto tecnológico importante e necessário para que a nossa frota passe a ter um nível de rentabilidade e de competitividade com a frota internacional.”
Para isso, o presidente ressalta a necessidade de o Brasil se unir aos países costeiros do Atlântico Sul, formada por africanos e sul-americanos para então, se tornar protagonista na pesca da região, onde se mostra estratégico a criação de um ambiente de discussão e de política com todas essas nações.
Essa matéria faz parte da Capa da #52 Seafood Brasil. Clique aqui e leia gratuitamente.
Créditos da imagem: Canva