Cação: um panorama atual do mercado brasileiro
Indústria

Cação: um panorama atual do mercado brasileiro

Volumes da espécie ainda são representativos

Wilson Santos - 12 de dezembro de 2022

Tema atual e pautado frequentemente nos noticiários, o cação tem boa participação no mercado brasileiro. E, apesar de uma forte pressão ambiental que tem impactado na queda de consumo, os volumes da espécie ainda são representativos, permanecendo no “top 10” da preferência nacional.
 
Ao consumidor final, a projeção de valores é na faixa de R$ 500 milhões (base 2021). Em 2010, conforme dados do Ibama e Comex, o consumo nacional foi de 290 g per capita/ano, com um total equivalente a peixe inteiro de 57 mil toneladas. 
 
Já em 2021, segundo a Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT) e o Comex, o consumo foi de 180 g per capita/ano, equivalente a 38 mil toneladas em peixe inteiro in natura. A redução no consumo aparente foi de 38% nos últimos dez anos.
 
A participação do cação importado sempre foi muito representativa no mix com capturas locais. Em 2010, o produto importado representou 77% do consumo e em 2021 subiu para 88%.
 
Estima-se que nos últimos cinco anos, mais de 95% do cação consumido no mercado brasileiro é da espécie Prionace glauca, o conhecido Cação Azul. Em 2021, a captura do Cação Azul em toda região de abrangência do ICCAT foi de 54.888 toneladas.
 
No mesmo ano, o consumo desta espécie no Brasil foi de 38.172 toneladas (em peixe inteiro), que representa 70% da captura da zona ICCAT, o que mostra a relevância do tamanho do mercado brasileiro deste recurso. Por outro lado, a captura nacional foi de 4.629 toneladas, representando apenas 8% da captura total da zona ICCAT.
 
Assim, a espécie tem bons motivos que justificam a sua aceitabilidade ao consumidor nacional como: tradição de décadas no mercado; cadeia logística totalmente integrada, incluindo importações via terrestre; fornecimento durante o ano todo; carne branca; diversidade e facilidade de preparo para consumo; textura e sabor com boa aceitabilidade; e principalmente, a competitividade com preços baixos.
 
 
Créditos: Comex para importações e ICCAT para capturas nacionais
 
O quadro acima mostra uma uniformidade nas importações deste produto, indicando uma cadeia produtiva sedimentada, tanto em fornecimento como em estabilidade de preços. 
 
Mercado consumidor já desenvolvido e conhecedor dos atributos que o produto entrega;
A exceção foi o ano de 2020 devido aos impactos da covid-19;
A linha de equivalência em peixe inteiro considera fatores de conversão dos três tipos de produtos quando convertidos em pescado inteiro.
 
A tabela abaixo mostra quanto o cação azul se coloca competitivo em preço com outros produtos que disputam um mesmo segmento de consumidor. Neste grupo, se agrega o filé de tilápia que também chega ao consumidor no mesmo nível. 
 
 
 
As importações representaram 89% da média entre 2018 e 2021, com características específicas com relação à origem de cada tipo de produto.
 
Cação azul congelado, sem vísceras, sem cabeça e nadadeiras - Tubo
 
 
Produto dominado por Taiwan que nos últimos três anos representou 61% do fornecimento no segmento;
Barcos- fábricas realizam a captura e o processamento entregando o produto nos locais de desembarques praticamente prontos para serem exportados:
A participação da captura do cação azul realizada pela frota de Taiwan no âmbito do ICCAT é muito reduzida (em 2021 foi de 2%).
 
Desta forma, o produto desta origem comercializado no mercado brasileiro foi capturado em outros mares:
Conforme o sistema PGA-SIGSIF, Taiwan tem mais de 300 barcos-fábricas aptos a exportar este tipo de produto para o Brasil;
Nos últimos três anos, 93% do produto importado de Portugal entrou no Brasil por via terrestre na fronteira com o Uruguai.
 
Cação azul congelado, em pedaços (postas) sem pele: 
 
Produto com processamento de retirada da pele e corte de postas que normalmente é realizado em terra;
Nesta linha, o domínio é de empresas localizadas em Portugal e Uruguai, que representaram nos últimos três anos 35% e 32% respectivamente, das importações brasileiras neste segmento;
Uruguai não tem captura desta espécie, sendo o fornecimento da matéria-prima para indústria local e realizada por barcos estrangeiros como deTaiwan e Japão.
Por condições do Mercosul, todo pescado com origem do Uruguai está isento de imposto de importação.  
 
Filé de Cação azul congelado
 
    
Produto importado com maior valor agregado na linha de cação, e tem como fornecedor líder o Uruguai, que nos últimos três anos representou 62% do total importado;
A importação de filé de cação do Uruguai traz alguns questionamentos:
1. O Uruguai não tem captura de cação, assim como tem um mercado interno muito pequeno, mas tem uma legislação chamada de importação temporal praticamente direcionada para esta atividade. 
2. O Brasil tem um grande mercado consumidor, uma boa indústria de transformação e uma captura interna muito abaixo da necessidade, sendo assim, um grande importador do recurso.
3. Mesmo incorporando mais um custo de frete rodoviário (Uruguai – Brasil), o filé de cação azul produzido no Uruguai tem forte competitividade no mercado brasileiro.
 
Este artigo foi escrito pelo consultor Wilson Santos, especial para a Seafood Brasil.
 
Crédito da foto: Pexels, por Pixabay  
 

Sobre Wilson Santos
 
  • Engenheiro Industrial Químico e Diretor Industrial da Coqueiro- Quaker por 25 anos. Atualmente na área de consultoria com empresa WS Consultoria. wsconsul58@gmail.com
 
publicidade 980x90 bares
 

Notícias do Pescado

 

 

 
SeafoodBrasil 2019(c) todos os direitos reservados. Desenvolvido por BR3