A ameaça de invasão vietnamita
Comercialização

A ameaça de invasão vietnamita

Além das diferenças de preços, a batalha comercial é quase uma luta entre o pequeno Davi e o assutador Golias

Abraão Oliveira - 26 de janeiro de 2024

A entrada do primeiro container de Filé de Tilápia Congelada vietnamita no Brasil em dezembro de 2023 foi o apito inicial de uma batalha comercial que poderá se prolongar ao longo do ano. É o "vale tudo", o MMA/UFC do mercado brasileiro de pescado em 2024. Esse é um exemplo do que chamamos de Nova Economia Institucional, que posso resumir como "o poder das instituições em alterar os padrões de concorrência". 
 
Já vivemos essas batalhas em outros fronts e é natural que essas disputas comerciais aconteçam nesses ambientes. Vivemos essas disputas com a abertura das importações de camarão, com as reduções tarifárias da indústria de conservas de sardinhas, com os Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade (RTIQ')s e tantas outras medidas de regulação. 
 
Mas quais as ameaças, motivações e armas que os agentes envolvidos nessa disputa podem e deverão utilizar? 
 
Bem, o Vietnã embarcou o seu primeiro container com Filé de Tilápia Congelada no último mês de dezembro de 2023 com 25 toneladas a um preço médio de US$ 4.724/tonelada. Se considerarmos o dólar comercial ao valor aproximado de R$ 4,90, por exemplo, teríamos o Filé de Tilápia do Vietnã posto no Brasil, incluindo 10% de imposto (obviamente que faltam alguns custos), ao preço de R$ 25,46 kg. 
 
Ao mesmo tempo, temos o preço do Filé de Tilápia ofertado no CEAGESP, por exemplo, a maior central de distribuição de alimentos no atacado da América Latina, ao preço de R$ 38 kg a R$ 44 kg para os primeiros dias de 2024. Uma diferença de aproximadamente 30% no valor entre um e outro produto. 
 
Além das diferenças de preços, a batalha comercial é quase uma luta entre o pequeno Davi e o assutador Golias. Os números da produção de pescado vietnamita impressionam! São mais de 9 milhões de toneladas de pescado produzidas, entre aquicultura e pesca, e 1,3 milhões de hectares de lâmina d'água. O país é o 4ª maior produtor global de pescado, atrás apenas da China, Indonésia e Índia, sendo a maior parte da produção destinada à exportação. 
 
A redução de 8% das receitas das exportações vietnamita de pescado em 2023 foram motivo para o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural do Vietnã reduzir a sua meta de exportação de pescado para 2024 de US$ 10 bilhões para US$ 9,5 bilhões.
 
Isso não significa uma posição de tranquilidade para os produtores brasileiros. Apenas a título de comparação, para termos dimensão da escala, exportamos 60 mil toneladas em 2023, com uma receita de US$ 331 milhões, ou seja, exportamos o equivalente a 3% do que os vietnamitas exportam. Esse é o tamanho do Golias do qual estamos de frente. 
 
Apesar dos principais mercados consumidores globais - China, Estados Unidos, Europa e Japão -, terem apresentado sinais de recuperação neste fim de ano, o escomamento da produção vietnamita lida com uma série de dificuldades, comuns a nós também, como os aumentos dos preços dos serviços logísticos e de custos com insumos, questões de regulações sempre cada vez mais exigentes como a rastreabilidade, as garantias de qualidade à bordo e o combate à pesca ilegal, além de barreiras para a aquicultura como ao bem estar-animal e certificações de carbono como medidas de segurança ambiental. 
 
A União Européia, por exemplo, mantém um sistema de alerta amarelo para os produtos do país, o que revela as dificuldades que o setor tem em atender os pré-requisitos de monitoramento ambiental e da inadequada infraestrutura das áreas de produção. 
 
Todas essas questões tornam o mercado brasileiro uma importante via de escoamento da produção local. O Vietnã já está fortemente posicionado no mercado brasileiro de pescado e com o pangassius, foram 32,8 mil toneladas em 2023, sendo o segundo maior exportador de pescado para o Brasil há alguns anos, atrás apenas do Chile com o salmão. 
 
Outro fato preocupante é que o Vietnã apresentou o maior crescimento nas exportações para o Brasil quando comparado com as cinco principais origens das importações brasileiras de pescado. As armas vietnamitas estão direcionadas para o mercado brasileiro, mas as fragilidades do setor naquele país mostram onde a pedra brasileira precisa acertar. 
 
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Créditos da imagem: Canva
 
 

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Sobre Abraão Oliveira
 
  • Engenheiro de pesca com mestrado em agronegócio e especialização em fluxos comerciais de pescado. É fundador da consultoria ProjePesca e cofundador da JubartData, que possui diversas empresas internacionais em seu portfólio. Atua como consultor de inteligência de negócios para empresas de pesca.
 
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