2025: o ano do “tudo ao mesmo tempo agora”
Ano de choques simultâneos expôs fragilidades, travou investimentos e testou a resiliência do setor de pescado
26 de dezembro de 2025
Perto do almoço da quinta, 4 de dezembro, grupos de WhatsApp de produtores, industriais e lideranças do setor aquícola brasileiro começaram a ferver. Áudios se sobrepunham, mensagens se repetiam, emojis de comemoração surgiam onde, ao longo de quase todo o ano, prevaleceram alertas, indignação e apreensão. A notícia era curta, mas carregada de alívio: estava suspensa a lista da Comissão Nacional de Biodiversidade que classificava a tilápia como espécie exótica invasora - leia mais aqui.
Segundo o próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a inclusão de uma espécie na lista tinha caráter técnico e preventivo, não implicando banimento, proibição de uso ou cultivo. Apesar disso, o diretor-presidente da PeixeBR, Francisco Medeiros, atestou: Rita Mesquita, secretária nacional de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, apresentou em reunião do Conape que tratou do tema um slide com o termo “erradicação” associado à principal proteína aquícola do país.
Parecia tão absurdo que muitos representantes da cadeia nem levaram a ameaça a sério. Não foi o caso de Medeiros e outras autoridades. Afinal, a Portaria GM/MMA nº 1.519, que estabelece a estratégia e o plano de ação para a biodiversidade 2025-2030, publicada em 25 de novembro de 2025, anunciava como a sexta meta: “Reduzir, até 2030, em pelo menos 50% (cinquenta por cento), as taxas de introdução e o estabelecimento de Espécies Exóticas Invasoras - EEI conhecidas ou potenciais, e erradicar ou controlar EEI (...)”.
Quando a lista caiu com um comunicado sugerindo que qualquer lista será submetida à conversa com o setor privado, de pequenos a grandes produtores comemoraram. Foi uma das raras alegrias de um ano que penalizou o setor de pescado como poucos na história recente. Um ano em que crises externas e internas se acumularam sem aviso, testando a resiliência de uma cadeia produtiva que vinha em ritmo acelerado de crescimento e profissionalização.
2025 ficará marcado como o ano em que situações como essas parecem ter acontecido ao mesmo tempo, como mostra a cronologia a seguir:
A pesca industrial atravessou 2025 sob uma combinação igualmente preocupante de insegurança econômica, desorganização regulatória e disputas institucionais que ameaçam a previsibilidade do setor. Em março de 2025, a decisão do governo de zerar o imposto de importação da sardinha, sob o argumento de conter a inflação dos alimentos, acendeu um sinal de alerta imediato na indústria nacional.
Poucos episódios em 2025 simbolizam tão bem a fragilidade do setor aquícola brasileiro quanto a reabertura da importação de tilápia do Vietnã. Isoladamente, a decisão já seria controversa. Inserida no contexto de um ano marcado por tarifaços, ameaças regulatórias e perda de mercados, tornou-se mais um golpe em uma cadeia produtiva emergente e preparada para alçar voos globais cada vez mais altos.
A decisão dos Estados Unidos de elevar para 50% a tarifa de importação sobre produtos brasileiros (10% anunciados em abril, mais 40% em julho) desencadeou a maior crise do setor no ano. O impacto foi imediato: pedidos suspensos, embarques inviabilizados, contratos revistos às pressas e estoques represados. Os números ajudam a dimensionar o choque. 97% das exportações brasileiras de tilápia tinham como destino o mercado americano. Com a tarifa, esse fluxo praticamente parou. A consequência foi sentida em cadeia: redução do povoamento, cortes de turnos e adiamento de investimentos.
O conflito em torno do ordenamento da pesca do Cação Azul atingiu seu ponto mais agudo em setembro de 2025, quando pesquisadores, entidades científicas e representantes da gestão pesqueira nacional divulgaram uma Nota de Repúdio à decisão do governo de revogar a Portaria Interministerial MPA/MMA nº 30/2025, que reconhecia a captura do cação azul (Prionace glauca) como espécie-alvo na pesca industrial com espinhel de superfície.
Apesar do cenário adverso, 2025 não termina sem luzes no horizonte. A missão da União Europeia ao Brasil que pode determinar a reabertura do Mercado Comum Europeu ao pescado brasileiro já está agendada para junho de 2026, abrindo caminho para a retomada de um mercado estratégico, especialmente para produtos de maior valor agregado.
Outra boa notícia veio do Paraguai, onde o Senado autorizou o cultivo de tilápia em Itaipu, sinalizando maior integração regional e oportunidades produtivas - o potencial estimado de produção de peixes no reservatório é de 400 mil toneladas ao ano, com geração de produção de até R$ 2 bilhões por ano e cerca de 50 mil empregos diretos e indiretos.
Do ponto de vista institucional, há outros sinais positivos. O MPA retomou, após anos, a estatística pesqueira e aquícola oficial, trazendo mais transparência e unificando as bases de dados que estavam dispersas.

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Créditos imagens: Canva/IA
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