Importações de tilápia do Vietnã repercutem e preocupam produtores
Aquicultura

Importações de tilápia do Vietnã repercutem e preocupam produtores

Essa não foi a primeira vez que o Vietnã exportou tilápia para o Brasil. Em 2012 e 2013 foram registrados 1.500 e 3.400 toneladas

17 de janeiro de 2024

As importações de 25 toneladas de filés de tilápia congeladas do Vietnã em dezembro do ano passado repercutiram no setor e trouxeram neste começo de 2024 mais preocupações aos produtores e entidades representantes de tilápia brasileira.
 
Segundo nossa apuração junto ao Painel do Pescado, as compras de 25 toneladas de filés de tilápia congeladas importadas do Vietnã em dezembro do ano passado foram feitas de São Paulo ao custo de US$118.100. Mas essa não foi a primeira vez que o Vietnã exportou tilápia para o Brasil. Nos anos 2012 e 2013 foram registrados volumes de 1.500 e 3.400 toneladas, respectivamente.
 
O Vietnã é o segundo maior exportador de pescado para o Brasil, atrás apenas do Chile. Em 2023, foram 32,9 mil toneladas, com uma alta de 15% em volume, gerando uma receita para o país de U$ 98 milhões de dólares. O panga é responsável por 99% das exportações do país. 
 
Em dados gerais, o comércio entre os dois países gira na ordem dos 3 milhões de dólares, o Brasil exportou 3,7 milhões de dólares para o Vietnã entre soja (35%), milho (31%), algodão (10%) e dezenas de produtos agrícolas.
 
Já as importações do Vietnã totalizaram U$3 bilhões no ano passado, entre equipamentos e peças de comunicação (25%), transistores e válvulas (19%), pneus (8,8%), calçados (7,2%) e diversos outros produtos de transformação. 
 
As importações de produtos agrícolas do Vietnã representam apenas 1% do volume total, U$ 34 milhões, sendo 45% de matéria-prima da indústria da borracha, 29% de café não torrado e 23% de especiarias.
 
Importação repercute e preocupa
 
Em publicação em seu portal, a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) destaca que “um lote de tilápia importada do Vietnã chegou ao Brasil em dezembro de 2023, causando muita preocupação à PeixeBR e à cadeia da produção de peixes de cultivo como um todo”.
 
“Não temos informações se o lote passou por todas as análises de riscos sanitários, de maneira a garantir sua segurança para consumo. Da mesma forma, não conhecemos o processo de criação e de processamento da tilápia no Vietnã, o que também consideramos preocupante”, diz Francisco Medeiros, presidente da PeixeBR.
 
Além disso, a publicação ressalta as dúvidas sobre o custo da importação, destaca o desenvolvimento e a importância econômica e social da cadeia da produção de tilápia no Brasil e afirma que está em contato com o Mapa e o Ministério do Trabalho e do Emprego para saber se foram realizadas todas as análises de risco sanitário necessárias e entender os motivos da importação.
 
A Associação da Piscicultura em Águas Paulista e da União (PeixeSP) também manifestou sua preocupação com a notícia das recentes importações de tilápia do Vietnã ao Brasil. “O setor vê com extrema preocupação essa situação porque é um cenário devastador para a tilapicultura brasileira, se isso permanecer, se não houver nenhuma medida”, comenta a secretária executiva, Marilsa Fernandes.
 
“Desde outubro do ano passado a situação de importação vem sendo aventada. Agora se efetivou. O problema é que o produtor brasileiro não tem as mesmas condições que o produtor vietnamita”, explica. Segundo ela, a tilápia do Vietnã custa em média US$ 4 mais barata do que é produzida aqui. Assim, para ela, essa discrepância torna o produtor brasileiro economicamente desfavorecido diante dos desafios do custo Brasil.
 
Fernandes enfatiza a busca por igualdade de condições, não como uma demanda por reserva de mercado, mas pela equidade nas oportunidades. “Nós queremos que as mesmas condições estejam postas, e então é lá e cá, vamos ver quem é melhor, e tudo bem, quem pode mais chora menos.”
 
Ela destaca que o Brasil, sendo um importante produtor de insumos para ração, enfrenta preços abusivos, enquanto o Vietnã importa esses insumos do País. “ Só que nós pagamos aqui, eu não sei quanto equivale o custo de produção lá da ração para o produtor vietnamita, eu sei a do Brasil e ela é injusta e extremamente escorchante”.
 
A secretaria executiva da PeixeSP ainda ressalta a dificuldade do produtor brasileiro em competir, considerando os custos adicionais do Brasil. Ao analisar a conversão dos US$ 4 a menos no preço da tilápia, Fernandes destaca a inviabilidade econômica para os produtores nacionais, alertando para os riscos iminentes de perda de empregos e o impacto social negativo.
 
“Espero que o setor organizado consiga reverter isso. As condições de importação estão postas, mas a gente precisa reverter essa situação porque senão vai acabar e o custo social disso é muito grande. Então é muito preocupante e a gente precisa se organizar e cobrar do Estado brasileiro uma posição, porque é a manutenção de empregos e de distribuição de renda por meio dessa atividade que está se consolidando. E não tem sentido o Brasil importar filé de tilápia sendo o quarto maior produtor de tilápia do mundo, é uma incoerência”, finaliza.
 
O que diz o MPA
 
Procurado, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) reforçou que “não existe nenhum acordo comercial entre o Brasil e o Vietnã para a importação de tilápias”. 
 
Em dezembro do ano passado, durante uma sessão na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, o ministro André de Paula, foi convidado para esclarecer esse e outros assuntos. Na ocasião, ele ressaltou que qualquer acordo comercial que o Brasil celebre com outros países precisa da aprovação do Senado Federal, passando por todas as comissões antes de ser votado em plenário.
 
O que diz o Mapa
 
Procurado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não se manifestou até o fechamento desta matéria.
 
Matéria atualizada às 12h23 com participação da PeixeSP.
 
Créditos: Canva
 

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