Tendências e oportunidades para commodities de pescado
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Tendências e oportunidades para commodities de pescado

Commodities salmão, tilápia, camarão, bacalhau e peixes brancos foram debatidas por especialistas no talk durante SSLA

23 de janeiro de 2024

Com o crescimento populacional e novos padrões de consumo, as commodities de pescado ganham cada vez mais destaques no mercado mundial, seja pela pandemia, que impulsionou mudanças nos hábitos de consumo, ou pela estabilidade de produção e manejo eficaz dos recursos.
 
Para debater estes e outros aspectos, o talk "As commodities do pescado: Salmão, Tilápia, Camarão, Bacalhau e Peixe Branco", realizado durante a 2ª edição da Seafood Show Latin America (SSLA), reuniu representantes da indústria nacional e internacional que compartilharam seus insights sobre os produtos.
 
Salmão: amplo consumo
 
Entre os produtos importados, o salmão figura como uma das espécies mais consumidas globalmente. A pandemia da Covid-19 trouxe uma significativa mudança no comportamento dos consumidores, levando muitas pessoas a cozinhar em suas residências, uma prática que persistiu mesmo com a reabertura dos canais tradicionais de alimentação. Essa alteração de hábitos, combinada ao esperado crescimento populacional, apresenta uma oportunidade considerável tanto para a produção como para a comercialização de salmão em diversos países.
 
Esteban Ramíres, gerente geral do Instituto Tecnológico de Salmão da Samón de Chile, destaca tendências que favorecem a indústria do salmão nesse cenário: “tendência de cozinhar em casa, o interesse crescente por nutrição, o esperado aumento populacional e a previsão de aumento no consumo per capita”, explica.
 
Com um crescimento projetado de 1,5% ao ano no consumo de pescado, Ramíres enfatiza que diversas oportunidades surgirão não apenas para o salmão, mas para todos os produtos de pescado marítimo.
 
Para Rand Bostald, diretora do Conselho Norueguês da Pesca, o salmão representa uma oportunidade significativa para a expansão das vendas e crescimento do consumo. “O aumento do consumo se elevará pelo peixe cru, especialmente entre a geração Z que tem uma preferência por esse tipo de preparo”, diz. 
 
Bostald observa que a Noruega ainda não vende salmão para o Brasil, mas conforme ela, já estão explorando mecanismos para se tornarem fornecedores desse produto, apesar de destacar a necessidade de matéria-prima para atender ao crescimento projetado de 18% no consumo nos próximos cinco anos.
 
 
Carolina Nascimento, fundadora da Xtra Miles e representante da American Seafoods, ressalta as oportunidades para o aumento do consumo e das vendas de pescado na América Latina. “Além do potencial de expansão do consumo, destaco a população significativa da América Latina, que conta com 570 milhões de habitantes”, lembra.
 
Camarão e Merluza estáveis
 
No que diz respeito aos produtos argentinos, como camarão e merluza, Pablo Basso, da Câmara de Armadores de Pesqueiros e Congeladores da Argentina e diretor comercial da empresa Iberconsa, revela que a produção pesqueira proveniente da pesca extrativa permanece estável. 
 
“Tanto a merluza argentina quanto o camarão argentino demonstram estabilidade nas capturas, com cotas que atingiram 320.000 toneladas em 2022 e aumentaram para 330.000 t em 2023”, fala Basso. Números que, segundo ele, sugerem um manejo eficaz dos recursos. 
 
Os dados abaixo foram divulgados em setembro de 2023 e indicavam volumes constantes de capturas:
 
Em 2023, registrou-se uma diminuição nas importações de filé de merluza do país para o Brasil. A principal razão por trás desse declínio, segundo ele, foi o fato de algumas embarcações de pesca, que antes se dedicavam à captura de merluza, passarem a pescar camarão. “Há uma grande oportunidade de exportar merluza fresca para o Brasil”, pontua Basso, revelando que já está aguardando uma consulta pública sobre as exigências sanitárias para a exportação ao Brasil.
 
Outra grande aposta, conforme Basso, é com o camarão argentino. “Queremos demonstrar que esse é o mesmo camarão que se consome no Japão, com a grande comunidade (oriental) que existem em São Paulo e o reconhecimento dos restaurantes orientais para impulsionar o consumo do crustáceo argentino no sushi, assim como se faz com o camarão japonês”, frisa. 
 
Bacalhau: destaque na culinária
 
Já sobre o bacalhau, o mercado brasileiro tem testemunhado um aumento significativo nas importações da Noruega e de Portugal. Segundo dados divulgados pelo Conselho Norueguês da Pesca (CNP), as importações desse produto aumentaram em 6,4% no período entre 2021 e 2022. 
 
O bacalhau é um dos pescado amplamente apreciados na culinária brasileira, destacando-se em pratos tradicionais como a "bacalhoada". Seu consumo é notavelmente mais elevado durante feriados religiosos, com a Páscoa liderando esse período.
 
Ao falar sobre sua perspectiva do bacalhau no Brasil, Bostald frisa que, embora o bacalhau seja um produto tradicional e emocionalmente conectado aos brasileiros, não espera um crescimento expressivo para a espécie Gadus morhua no País, sobretudo  por sua caracterização como um “produto de luxo”. “O bacalhau está fortemente associado a eventos como a Páscoa e o Natal. Já o saithe, outra espécie de bacalhau, ganhará destaque no mercado brasileiro”, completa.
 
A diretora também observa que o processo de produção do bacalhau salgado e seco, conforme comercializado no Brasil, é dispendioso. E, embora esse tipo de bacalhau seja predominantemente disponibilizado durante datas festivas, o crescimento nas vendas será desafiador. “Com as cotas diminuindo, o produto vai ficar mais caro e há muita demanda na Europa para o segmento de peixe fresco [...] Com este preço, seguirá sendo um produto de luxo”, finaliza.
 
Tilápia: a protagonista brasileira
 
A tilápia é atualmente o principal peixe produzido e comercializado no Brasil, sendo que o contínuo crescimento da demanda tem promovido preços recordes, como observa Nicolas Landolt, sócio fundador da Tilabras Aquacultura. Para ele, a consolidação dessa proteína como parte da dieta semanal dos brasileiros é resultado de um árduo trabalho realizado ao longo das últimas duas décadas e liderado pelas cooperativas.
 
Ele ainda ressalata a importãncia da diversificação na apresentação do produto e a venda de itens de valor agregado, utilizando a tilápia como matéria-prima, como fatores positivos para a competitividade de preços e acesso ao consumidor final.  “A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) [em 2022] identificou que 76% dos consumidores brasileiros ainda não têm acesso à tilápia, o que impede um aumento no consumo”, diz.
 
No geral, o ingresso de grandes players do setor de proteína terrestre, como a JBS, é apontado por ele como outro fator positivo, ampliando a distribuição de pescado e incentivando o consumo por meio de campanhas publicitárias.
 
Por sua vez, Nascimento sublinha a necessidade de o setor de pescado refletir sobre como tornar o peixe mais atraente, refletindo sobre como introduzir mais espécies, formatos e apresentações para torná-lo mais popular. “O desafio da indústria está em reduzir a lacuna existente na América Latina em comparação com os mercados americano e europeu”, analisa. Para isso, sugere formas criativas de consumo de pescado como uma oportunidade de aumentar o consumo.
 
Créditos: Canva
 

 
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