Nativos vão engrenar?
Indústria

Nativos vão engrenar?

Festival do Tambaqui deu visibilidade aos nativos, mas segmento ainda enfrenta grandes desafios

17 de julho de 2020

No ano passado, um dos eventos de maior visibilidade à aquicultura nacional colocou um grande churrasco de 4 mil bandas de tambaqui em plena Esplanada dos Ministérios. O Festival do Tambaqui movimentou a cadeia dos nativos e deu um novo norte de consumo nas grandes capitais além da Região Norte - onde a espécie já é prata da casa. 
 
O movimento deu visibilidade nacional a uma cadeia até então estagnada: segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), a produção nacional de peixes nativos, liderada pelo tambaqui, recuou 4,7% em 2018. 
 
Em 2019, um aumento pontual de 20 toneladas (para 287.930 toneladas) não foi suficiente para aumentar a participação das espécies nacionais no total produzido. De 39,84%, pintado, pirarucu e tambaqui passaram a representar 38% do total.
 
A impossibilidade de fazer uma nova edição do churrasco neste ano em virtude do novo coronavírus é só mais um componente prejudicial ao esforço de produtores para fazer o público brasileiro se entusiasmar com estas espécies. 
 
A lista de desafios é longa: hábitos alimentares regionais e a estigmatização dos nativos aparecem como os principais gargalos do setor, junto com a falta de organização, altos tributos, falta de incentivos fiscais, baixa profissionalização da mão de obra, baixa remuneração, entre outras questões.
 
 
Em Rondônia a “lição de casa está sendo bem feita”, sublinha Francisco Hidalgo Farina (Paco), presidente da Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia (Acripar).
 
Para ele, a realidade do tambaqui da Amazônia produzido no Estado choca com os nativos de outras regiões do País, porque os peixes locais não só entusiasmam, como estão em crescimento acelerado.
 
Altamente dependente do mercado in natura, porém, Rondônia depende de mais indústrias locais para processar e capilarizar o produto por todo o País. o Estado é o maior produtor de peixes nativos do Brasil e segundo Paco, com uma produção estimada muito acima daquilo do que os números estatísticos têm dito. “Os tanques para produção e engorda do tambaqui crescem em grande escala todos os dias, entretanto a capacidade de processamento local não passa de 3%”. 
 
A Zaltana Pescados atua com processamento de nativos frescos e congelados em Ariquemes (RO) e é um modelo de indústria já estabelecido no Estado. O sócio, Bruno Leite, reforça que a indústria é uma das pioneiras na absorção desta matéria-prima local.
 
Para ele, que também é produtor, os nativos são alternativas aos peixes de aquicultura que seguem com grande penetração, especialmente a tilápia. 
 
Em Almas (TO), a 300km da capital do Estado, a Pescados Piracema está desde 2008 produzindo e comercializando um mix de produtos nativos no mercado nacional.
 
Com os produtos da empresa a preferência alimentar regional é visível: a maior parte do pescado eviscerado e fresco vai para região Norte e Nordeste, já para o Centro-Oeste vão os filés e processados, como analisa Valtei Valadares Rosa, gerente do frigorífico e da piscicultura.
 
 
A Pescados Piracema tem experiência como produtor, indústria e distribuidor. E do lado produtor, a grande queixa está no preço da ração, que é o principal insumo de produção.
 
Em Aparecida de Goiânia (GO), a FrioCenter Pescados trabalha com processamento e distribuição de nativos, além dos importados e de extrativos.  As vendas caíram consideravelmente durante a crise, mas aos poucos estão retornando à normalidade, esclarece Leandro Cesar Francisco, diretor da empresa.
 
Os altos tributos pagos pelos frigoríficos na região também são um problema, embora a indústria receba incentivo fiscal no ICMS (o peixe é isento), mas em compensação a ração é tributada pelo Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), o que acaba pesando no valor final do produto.
 
Pirarucu enfrenta a sazonalidade
 
Em Canavieiras, no Sul da Bahia, a Fazenda Águas Pretas investe forte no marketing como uma produtora de pirarucu no ano todo. Para o proprietário, Celso Gardon Machado, a falta de fidelização dos clientes, no caso específico do pirarucu, acontece principalmente por causa da sazonalidade do produto.
 
 
Com a oferta concentrada apenas em um período do ano, a remuneração do produtor fica à mercê dos frigoríficos que determinam o preço. Neste ano, a Semana Santa foi atingida pela pandemia da Covid-19 e o kg variou entre R$ 9 e R$ 10. 
 
Para ele, no caso do pirarucu, é difícil manter uma atividade econômica sem o retorno financeiro, o que realmente deverá inviabilizar, a curto prazo, uma indústria especializada.
 
Leia aqui a matéria completa na Seafood Brasil #34.
 

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