Ainda seremos um dos primeiros em produção e exportação aquícola!
Cabe a nós continuar arregaçando as mangas da camisa para colocar a nossa aquicultura no patamar que ela e nós merecemos
Fernanda Lemos e Jogi Humberto Oshiai - 21 de maio de 2019
Embora o Brasil tenha uma costa marítima extensa e uma capacidade hídrica de água doce relevante, mundialmente o País detém uma participação ínfima no mercado de produção global de peixes, crustáceos, moluscos e outros animais aquáticos que, segundo as últimas estatísticas divulgadas pela FAO continuou a crescer e atingiu 170,9 milhões de toneladas.
Deste total, a produção de captura foi de 90,9 milhões de toneladas, uma diminuição de 1,9% em relação ao ano precedente e a produção da aquicultura foi de 80 milhões de toneladas no mesmo período, um aumento de 5,2% ano anterior. Ainda segundo a FAO, os dez principais produtores de aquicultura (excluindo plantas aquáticas e não alimentares) foram (em milhões de toneladas): China (49,2), Índia (5,7), Indonésia (4,9), Vietnã (3,6), Bangladesh (2,2), seguido do Egito (1,4), Noruega (1,3), Chile e Mianmar (1) e Tailândia (0,96). Os dez maiores produtores contribuíram coletivamente com 89,3% da produção mundial!
Lembramos que o Brasil está entre os primeiros produtores e exportadores de carne bovina, suína e de frango, mas não se destaca no setor da pesca e aquicultura. A nosso ver, isso é fruto da desconexão entre as políticas públicas de fomento ao desenvolvimento de sistemas agroindustriais da aquicultura no País e também a falta de organização das cadeias em âmbito privado; em outras palavras a sua incipiência.
Apesar de o Brasil ter produzido 722.560 toneladas de peixes de cultivo em 2018, com crescimento de 4,5% sobre as 691.700 toneladas do ano anterior, segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), existe a necessidade de ações governamentais que promovam o desenvolvimento destas cadeias, tais como: definição de regras sanitárias de processamento, insumos nutricionais, genéticos e sanitários; fomento ao consumo interno como em escolas públicas, hospitais e universidades; linhas de crédito subsidiados para o desenvolvimento de negócios; linhas de pesquisa focadas nos pescados nativos e adaptação de espécies globalmente consumidas, como a tilápia, não esquecendo o processo de desenvolvimento tecnológico destas cadeias.
Não obstante, nem tudo deve ser feito as bases do governo e seu poder de institucionalizar e regimentar um setor. Cabe aos empresários, empreendedores e associações também o processo de desenvolvimento, afinal eles são os grandes protagonistas do “show”. Ao existir uma grande oportunidade ainda incipiente para o País, o empresário pode fomentar grupos de trabalho, a necessidade do legislativo em aprovações de regras para a cadeia, bem como a busca por tecnologias mundiais que podem ser “importadas” e adaptadas a realidade brasileira.
Em geral, o progresso de um novo sistema depende destes visionários que olham o que os vizinhos fazem e tentam trazer para fazer em casa, ou no nosso país. Apoio institucional é mais que necessário, especialmente em ambientes como de países em desenvolvimento ou emergentes como o nosso, onde as “regras do jogo” não são bem definidas e onde ainda há barreiras ao consumo interno, devido à cultura média do brasileiro em comer outras proteínas. No entanto, cabe relembrar a história da proteína animal principalmente do frango e suína, cujo desenvolvimento tecnológico genético acompanhado do sanitário e nutricional resultaram em duas indústrias poderosas e na disposição de proteínas acessíveis a mesa do brasileiro, que migra seus consumos baseados não apenas em sabor, mas principalmente no poder aquisitivo.
A introdução da aquicultura brasileira no mercado global com vistas a fazer do nosso País uma potência tão relevante quanto nas demais proteínas, depende também de diversos aprendizados. Acreditamos que o primeiro deles é verificar os condicionantes que fizeram com que o País se tornasse um grande exportador das proteínas – frango, suína e bovina. Cabe também averiguar as falhas ou problemas que estes segmentos têm enfrentado globalmente para a inserção já livre destes estigmas, mas não basta olhar apenas para os pontos fortes e fracos da história das outras cadeias proteicas.
É de grande relevância o mapeamento de regras internacionais de produção e controles sanitários, bem como as melhores tecnologias que podem passar por um processo de “abrasileiração” e aquelas que são de grande interesse que sejam importadas. Aprender com os países terceiros, sejam eles desenvolvidos ou emergentes também é uma forma de projetar um processo de “renascimento” já globalizado.
Acreditamos que a piscicultura brasileira tenha potencial considerável de crescimento graças aos recursos hídricos do nosso País de dimensão continental, ao clima propício e ao empreendedorismo dos produtores contra inúmeras adversidades enfrentadas pela atividade ao longo dos anos. Podemos considerar que doravante o desempenho tende a evoluir também como cadeia produtiva alavancado também pelas mudanças prometidas pelo atual governo que já apresentou duas propostas de reforma essenciais para que o nosso setor também possa atrair investimentos: reforma da previdência e anticrime!
Com um governo atuante na defesa do nosso setor, reiteramos que os passos iniciais mencionados acima para estabelecer cadeias de alto valor produtivo e segurança sanitária reconhecida, aumentarão as nossas chances de inserção de mercado mundial. Aos empresários cabe a lição de desbravar e investir, aos governantes de determinar formas de incentivar o desenvolvimento que não seja apenas voltada à pequena produção, mas a sua pluralidade que reflete aos diversos Brasis dentro de um só, fato que ocorre em quase todo o agronegócio brasileiro. Portanto, cabe a nós continuar arregaçando as mangas da camisa para colocar a nossa aquicultura no patamar que ela e nós merecemos. Mãos à obra!
- Fernanda Lemos é sócia da Lemos Oshiai e da Guaná Agropecuária, pesquisadora da FEA/USP – PENSA e professora da FIA. f.lemos@e-loconsultoria.com --------- Jogi Humberto Oshiai é sócio da Lemos Oshiai e da Stark Capital Partners e diretor de Assuntos Públicos da FratiniVergano European Lawyers (Bruxelas) e pesquisador associado da FZEA/USP j.oshiai@e-loconsultoria.com