Seminário Bacalhau da Noruega discute clima, cotas e consumidor
Pesca

Seminário Bacalhau da Noruega discute clima, cotas e consumidor

Conselho Norueguês da Pesca apresentou estudo do consumidor brasileiro de bacalhau

22 de outubro de 2019

O Conselho Norueguês da Pesca (Norwegian Seafood Council) realizou, na segunda-feira (21), mais uma edição do “Seminário Bacalhau da Noruega” no Museu de Arte Moderna (MAM), no Ibirapuera, em São Paulo. Como aconteceu no ano passado, o encontro trouxe atualização de dados e expôs estratégias do grupo para alavancar as vendas do bacalhau norueguês no Brasil.
 
Nils Martins Gunneng, embaixador da Noruega, lembrou que a relação entre os países começou com bacalhau, café e açúcar. “Há tradições que são importantes em manter, respeitar e continuar”. Para ele, agora o desafio está em cuidar dos oceanos, e mostrou tristeza ao comentar as conclusões do relatório do estado dos oceanos lançado recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU).
 
Segundo ele, no documento consta que os oceanos estão muito mais quentes em comparação há 100 anos, com evolução crescente e sem variações. “Mas nós podemos lidar com isso”, declarou Martins. Conforme o embaixador norueguês, a primeira-ministra do país, Erna Solberg, está abrindo a conferência anual Our Oceans, em Oslo em que vários países discutirão o tema.
 
Martins mostrou preocupação com a acidificação dos oceanos e o perigo que representa para a pesca. Lembrou que em 2050 teremos quase 10 bilhões de habitantes no planeta que precisarão de alimentos, e os oceanos serão a solução para suportar este aumento. “A terra não comporta tudo, mas os oceanos podem. Precisamos deles ricos e frios, o que é muito importante para o bacalhau”.
 
EFTA-Mercosul
 
Martins lembrou que cada país tem sua realidade com leis diferentes, mas para ele, que agora há uma maior confiança entre os governos e  a troca entre as autoridades “é melhor agora do que em anos anteriores”. “Temos visitas e conferências para tentar esclarecer melhor o que as autoridades precisam. Nossa cooperação com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é muito boa e isso ajuda”, frisou.
 
 
O acordo EFTA-Mercosul (Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio - EFTA, bloco formado por quatro países europeus - Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) também foi abordado no encontro. Para o embaixador, agora a relação será mais fácil porque os quatro países europeus e os quatro latino-americanos não precisam do processo longo que a União Europeia precisa. “Espero que possamos implementar o acordo no ano que vem. Teremos muitas oportunidades, como o salmão congelado, um dos produtos que podem se beneficiar com isso.”
 
Brasileiros e o pescado
 
O diretor do Conselho Norueguês da Pesca, Øystein Valanes, falou sobre o “Consumidor brasileiro de bacalhau”. Conforme ele, oito anos depois do primeiro seminário, o mercado apresenta possibilidades inexploradas. “O ponto de partida é o nosso estudo do consumidor brasileiro de bacalhau, realizado com 2.500 pessoas em Salvador, São Paulo e Curitiba.”
 
Valanes lembrou que os noruegueses comem 53 kg de pescado por ano, enquanto os portugueses comem mais de 60 kg e no Brasil 10 kg. Aqui, se cada pessoa consumir 100g a mais de pescado por ano, o mercado teria de oferecer 21 mil toneladas de pescado. “Claramente a vantagem do Brasil em relação a países que comem muito pescado é que ele representa um potencial grande”.
 
Entre os resultados obtidos pela pesquisa realizada pelo Conselho, 90% das pessoas entrevistadas consideram o pescado como uma alimentação importante na dieta. Já na região Sul, uma quantidade mais baixa considera o pescado mais importante comparado a outras cidades.
 
O preço segue como barreira de consumo, já que apenas 13% disseram que compram pescado por razões de custo-benefício. Quando perguntados sobre as razões para comprar e consumir pescado, 83% por conta dos benefícios para a saúde. Outros resultados indicaram que as pessoas usam uma grande variedade de espécies, mas preferencialmente sardinha e tilápia, depois salmão e camarão. 
 
Já 33% dos entrevistados responderam que consomem bacalhau regularmente. Em Salvador, o bacalhau aparece como o 3º peixe mais consumido, enquanto em Curitiba só 18% estão colocando o bacalhau com frequência. “É evidente que os brasileiros querem comer mais pescado do que hoje”, sublinhou Valanes. 
 
Para ele, “o benefício tem mais força do que o custo” já que quando perguntado na pesquisa, os entrevistados responderam que considerariam utilizar o salmão e camarão de formas mais frequentes. “Coincidentemente são as mais caras e os consumidoes carnívoros querem implementar mais o pescado na sua dieta”.
 
Valanes disse que o salmão não tem outra origem além da chilena, mas 48% e 46% dos entrevistados acreditam que o salmão vem da Noruega ou dos Estados Unidos, respectivamente e 25% preferem o salmão norueguês. “Isso atesta a importância da origem norueguesa independentemente do conhecimento do consumidor”, frisou.
 
Ele informou ainda que o aumento do consumidor médio do pescado foi de 4,1%, enquanto a carne bovina teve decréscimo de 1,22%, mesmo com anos de recessão.
 
Global White Fish Market
 
Valanes falou sobre o Global White Fish Market e os números apresentados em Berlim na última edição do Groundfish Forum. Conforme ele, 78% de todos os produtos de pescado e frutos do mar estão expostos a competição e isso criou mercados globais com preço comum para as principais espécies. “O que acontece em Portugal afeta os preços globalmente, porque os estoques são controlados. Tudo afeta tudo e variações de curto prazo acontecem”.
 
Sobre a polaca do Alasca, os dados apresentados indicam que os volumes devam permanecer estáveis em 2019 e no próximo ano, com a Rússia e os EUA como principais fornecedores. Outros dados apresentados pelo diretor indicam que 45% é exportado como peixe inteiro. A produção de polaca deve ficar estável em 3,4 milhões de toneladas em 2020.
 
Já no Atlantic Cod (Gadus morhua), o suprimento da Islândia está aumentando e irá suportar o crescimento de 1% no volume capturado em 2020, para 1,1 milhão de toneladas. A cota foi definida em um volume 2% superior ao ano passado: 738 mil toneladas para o Atlantic Cod e 172 mil toneladas para o saithe. 
 
O saithe crescerá de 5% para 369 mil toneladas em 2020 e este crescimento virá da Noruega. “Mas esperamos que haja crescimento de importação de saithe da Islândia para o Brasil neste ano”, falou.
 
O Brasil aparece como o 4º maior mercado para o Gadus morhua e saithe. Valanes acredita que o desenvolvimentos dos mercados, como o brasileiro e o dominicano, causarão impactos ao mercado mundial. Isso, em combinação com outras cotas e ações, deve diminuir o preço do saithe.” A demanda para saithe e cod é inelástica. Quando o preço sobe, a demanda cai pouco”. 
 
Conforme Valanes, que o custo em reais subiu muito por conta do câmbio, mas que os preços internacionais também subiram. “O câmbio é difícil e impossível de prever”, declarou.
 
Pescadores noruegueses vêm ao Brasil 
 
O CEO da Råfisklaget, organização responsável pelas vendas dos pescadores noruegueses, Svein Ove Haugland, explicou que, em todo o inverno, o cod sai do Mar de Barents e se aproxima da costa da Noruega. A pesca acontece de janeiro a abril e 80% do volume é capturado no período. A estrutura é descentralizada e a frota é bem diversificada: em 2018, foram 6200 barcos. “Diversas cidades costeiras não existiriam se não fosse pelo cod, como Tromsø ou Trondheim”.
 
 
Ao longo da costa norueguesa, são mais de 200 indústrias e centros de descarga de peixes. A técnica de captura Danish Seine é uma das utilizadas e permite que o peixe possa ser capturado e mantido vivo no próprio barco até o abate. 
 
Haugland falou que todo o pescado desembarcado precisa passar por eles e outras cinco entidades responsáveis pelas organizações de venda. Elas pertencem aos pescadores e organizam as vendas e o mercado de matéria-prima.
 
De acordo com ele, a pesca rendeu R$ 6 bilhões em 2018 e todo o pescado é certificado para indicar que cumpriu com as regulamentações do governo norueguês. A entidade ainda conta com sistema de preço mínimo, auctions e contratos com pagamento garantido.
 
Haugland vê a mudança climática como o grande desafio para a atividade e não há dúvidas de que os estoques estão variando de acordo com isso. Ele falou ainda sobre a exportação de 95% de seu pescado. “Somos muito dependentes disso e precisamos ter mais atividades de processamento na própria Noruega, em vez de exportar matéria-prima”.
 
O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Cristiano Lobo, também estava no evento e revelou que só o que a Noruega faz de negócios com pescado é maior do que fazemos com a carne bovina. Inspirado pelo modelo norueguês e pelo tamanho da costa brasileira, ele indicou que “pretende estimular a aquicultura oceânica”, declarou.
 
 
Ele disse ainda que a FAO coloca o Brasil como responsável por 10% da oferta global de peixe de cultivo e que precisamos incentivar o processo de aumento da rastreabilidade do pescado e a maior segurança alimentar, com preços ajustados. 
 
Lobo indicou que também é necessária uma maior equivalência internacional no ambiente regulatório. Deu como exemplo a exigência de que o salmão norueguês passe por uma análise de risco de importação, ainda que ele seja processado e congelado na Noruega e, por este motivo, não causaria impacto à produção aquícola brasileira.

 
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