Sem exportar à UE e com rechaço de importações, “povo das águas” vê descaso do Mapa com setor

Sem exportar à UE e com rechaço de importações, “povo das águas” vê descaso do Mapa com setor

Reunião de entidades define agenda comum para pleitos junto ao Mapa

29 de março de 2018

Já são 180 dias sem exportar à União Europeia. Embora tenha dito que enviou ao bloco um plano de ações para corrigir desvios apontados na missão dos auditores europeus, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não compartilhou o documento com o setor e, até agora, não obteve nenhuma conquista concreta em prol da reabertura.

Na esfera sanitária, indústrias e exportadores reclamam da atuação dos fiscais federais agropecuários, veem seletividade no rechaço e liberação de cargas e acusam prejuízos que impedem uma retomada econômica consistente do pescado em 2018.

O complexo cenário foi tema de uma reunião intersetorial realizada nesta terça-feira (27/03), em Itajaí (SC), com diversas entidades representativas. Capitaneado pelo Sindicato das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), o encontro foi uma tentativa de consolidar a união do setor para a definição de uma agenda comum do “povo das águas”.

A expressão, cunhada pelo presidente do Sindipi, Jorge Neves, capta o espírito do encontro. “Todos estão juntos no sofrimento gerado pelo descaso do governo com o setor: aquicultura, pesca artesanal, industrial, esportiva, indústrias etc.” Segundo ele, a falta de um discurso único foi um dos fatores que levou a situação ao patamar atual. “A nossa falha sempre foi a desunião, mas hoje esta articulação está completa.”

O deputado Valdir Colatto (PMDB/SC) participou do evento e sentiu a pressão do segmento. Ele disse entender a insatisfação de o pescado ter virado moeda de troca na esfera institucional. De Neves ouviu uma pressão ao ministro Blairo Maggi. "Pedimos ao Valdir que cobrasse do ministro Blairo o mesmo tratamento que ele deu na Operação Carne Fraca, quando ele e o Mapa inteiro saíram para defender as proteínas afetadas. No pescado, vamos para 190 dias desta proibição e ninguém fez nada."

Uma das resoluções do encontro foi a criação de uma nova Frente Parlamentar da Pesca e Aquicultura na próxima legislatura do Congresso, que hoje está sob o comando do deputado Cléber Verde (PRB/MA) e se debruçou nos últimos meses à consolidação da criação e transferência da Seap à Casa Civil - o que, segundo fontes do setor, não deve ser aprovado neste governo.

Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), diz que outro saldo do encontro foi a possibilidade de expor junto a todos os pares e à imprensa a “insegurança jurídica” que freia a retomada do setor em 2018. “O Mapa está legislando sobre o nosso setor por meio de circulares e memorandos”, acusa.

Ele se refere ao recente memorando de controle dos parasitas e o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Pescado Congelado (RTIQ), mas também acusa o Mapa de ter prejudicado o setor no novo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa).

Os temas relativos à indústria serão alvo de um novo encontro entre a indústria representada pela Abipesca e o Dipoa, em 10 de abril, em Brasília, que acontecerá no âmbito da nova Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescado, presidida por Lobo. “Não vamos bater nos parâmetros isolados. A nossa luta é pela conjunção de fatores como elemento de condenação. O pH precisa estar conjugado com as bases voláteis, fósforo e outros itens para que as análises laboratoriais atestem a falta de qualidade de um produto.”

A atuação dos fiscais sobre a legislação já causa indignação até no exterior. Um contêiner de merluza congelada a bordo por um grande exportador argentino foi rechaçado recentemente em Santa Catarina por estar acima do limite de pH permitido, o que provocou até um pedido de explicações do serviço sanitário daquele país (Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria - Senasa) junto ao Dipoa em uma teleconferência realizada nesta semana.

“O rechaço foi ridículo como todo o tema do pH. De acordo com a legislação fizeram uma segunda análise que não apontou problemas, mas exigiram uma terceira análise e voltou a dar outro valor”, diz o executivo da multinacional, que preferiu não se identificar.

Segundo ele, a medida teria outro viés. “Rechaçar por pH um filé de merluza congelado a bordo é realmente incrível e demonstra às claras que a metodologia usada pelo Mapa está fora de ser uma medida que se preocupe realmente pelo frescor do produto – mais fresco que isto é impossível.” Outro contêiner com abadejo da Nova Zelândia igualmente congelado a bordo também teria sido rechaçado pelo mesmo motivo.

Abipesca, Blairo Maggi, Cléber Verde, Dipoa, Eduardo Lobo, Jorge Neves, Mapa, Sindipi, Valdir Colatto

 
publicidade 980x90 bares
 

Notícias do Pescado

 

 

 
SeafoodBrasil 2019(c) todos os direitos reservados. Desenvolvido por BR3