Pacto entre setor público e empresas privadas pauta primeiro The Seafood Summit

Pacto entre setor público e empresas privadas pauta primeiro The Seafood Summit

Evento organizado pela Abipesca colocou entes públicos e privados na mesma página, com auxílio de representantes internacionais do setor

03 de setembro de 2018

Não por acaso a capital federal foi escolhida como a sede do primeiro The Seafood Summit Brazil, um encontro entre profissionais do setor público e privado do Brasil e do exterior para discutir as soluções e encaminhamentos aos problemas brasileiros, com base nas experiências de outros países.

Os mais de 100 convidados selecionados pela Associação Brasileira da Indústria de Pescado (Abipesca) assistiram a apresentações que adotaram tom de união entre os entes públicos e privados para o endereçamento das questões que assolam o setor.

Um jantar realizado no tradicional Brasília Palace Hotel abriu oficialmente o evento na noite da quarta-feira, 29 de agosto, com um discurso incisivo, mas bem-humorado do presidente interino da Abipesca, Thiago de Luca. Depois de saudar os presentes, o executivo relembrou a trajetória da Frescatto Company e conclamou os presentes a buscarem soluções diante do "pior momento pelo qual o Brasil atravessa na História".

A busca de soluções começou logo às 8h30 da quinta-feira, 30 de agosto, por meio da apresentação de quatro painéis distintos: matéria-prima; processamento; consumo; e sustentabilidade. Na introdução, o secretário especial de aquicultura e pesca, Dayvson Franklin de Souza, fez um breve histórico da representação institucional do segmento e valorizou a recriação de uma pasta.

Souza apresentou ainda um cálculo sobre a demanda de pescado ainda não atendida no Brasil para equipararmos o consumo per capita aos níveis mundiais (10 kg per capita no Brasil contra 20,3 kg per capita no mundo). "Temos um déficit produtivo de 2.146.520 toneladas se quisermos atingir este índice mundial. Potencial não falta, faremos o que estiver ao nosso alcance para desburocratizar e remover os entraves necessários à expansão do segmento."

A experiência chilena mostra como é possível alcançar este nível por meio de uma articulação consistente entre setor público e o empresariado. José Miguel Burgosex-diretor do Sernapesca (órgão análogo à Seap no Chile), mostrou como a salmonicultura se tornou a terceira atividade econômica do Chile, com exportações de US$ 6 bilhões. "No Chile nós definimos que a organização setorial deveria atacar cinco níveis: investimento em pesquisa e tecnologia, leis direcionadas ao aumento da competitividade, monitoramento, relatórios eletrônicos, transparência e dados públicos."

Desafios sanitários

Em uma das palestras mais aguardadas, o chefe do Setor de Instrumentos de Políticas Internacionais da Delegaçãoda União Europeia no Brasil, Rui Ludovino, provocou o público a respeito do veto europeu às exportações de pescado para o bloco. "É fácil exportar à União Europeia e vou mostrar a vocês." O representante europeu apontou os requerimentos da Direção Geral da Comissão Europeia para Saúde e Segurança dos Alimentos (DG Sante) para a importação ao bloco.

Sem mencionar os detalhes da sequência de auditorias realizada nos últimos anos, que levou à suspensão da exportação de plantas brasileiras desde janeiro deste ano, ele aproveitou para dar um recado claro às autoridades sanitárias brasileiras e à indústria do pescado. "Os operadores têm a obrigatoriedade de respeitar os controles oficiais, mas não adianta termos operadores privados altamente capacitados se não houver autoridades capacitadas para a fiscalização." Ludovino concedeu entrevista exclusiva sobre o tema à Seafood Brasil, que o leitor poderá conferir na edição #26 da revista, com publicação prevista para outubro.

No segundo painel, Carlos Rodriguez, diretor da Pesquera Veraz/Centauro, trouxe aos presentes um resgate dos prejuízos recentes dos exportadores argentinos com medidas sanitárias brasileiras que provocaram o rechaço de contêineres de produtos pesqueiros daquele país. "Estudos argentinos mostram que o pH não é, por si só, um índice de frescor do pescado. Houve uma videoconferência [entre as autoridades sanitárias de ambos os países], mas o problema ainda não se resolveu."

Apesar dos questionamentos, o secretário de defesa agropecuária (SDA/Mapa), Luis Eduardo Pacifici Rangel, adotou tom conciliador e chamou o setor a se colocar em seu lugar. "Peço que vocês calcem os meus sapatos. A intenção da secretaria não é fechar estabelecimentos, sabemos que a marca é o grande patrimônio das empresas. Mas o combate à fraude chegou a 40% do nosso esforço, o que não é trivial. E o pescado tem muita fraude, o setor fica rotulado."

Especificamente sobre o caso do pH, Rangel negou perseguição ao setor e disse: "Às vezes nossos fiscais erram. A secretaria não tem usado só o pH como o único parâmetro, é apenas a bala de prata do processo. É importante que a gente recicle técnicos e faça um processo de nivelamento e reciclagem dos técnicos para evitar critérios subjetivos. Isso pode gerar a percepção de que há perseguição ao setor."

Em comentário na discussão que se seguiu ao painel, o presidente da Câmara Setorial da Produção e Indústria do Pescado no Ministério da Agricultura, Eduardo Lobo, usou a mesma expressão de Rangel para mostrar disposição do setor privado em construir coletivamente as normas que regem o setor.

Comércio e consumo

A queda de 5% no consumo de alimentos e bebidas em 2017 é certamente um desafio, mas o crescimento de canais como o atacarejo mostra como há espaço para crescimento em pleno caos econômico e político do País. A avaliação é de Carolina Araújo, diretora geral da Nielsen do Brasil. "O atacarejo cresce em duplo dígito nos últimos anos. Não é o único, mas mudou o jogo. Se eu fosse do segmento estaria pensando em embalagens maiores para atingir este público."

Rafael Guinutzman, gerente comercial de suínos, aves e pescado do GPA, confirmou a tendência de expansão dos atacarejos, mas ressaltou que para perecíveis - como na peixaria fresca - o canal ainda é o modelo de super e hipermercados. Há expansão nos modelos de proximidade, no entanto. "Estamos procurando embalagens diferenciadas, com tecnologia skin pack, atmosfera modificada (ATM) e outros. Temos um potencial de 350 lojas de conveniência para produtos de peixaria fresco em ATM."

Confira a cobertura completa do evento na edição #26 da revista Seafood Brasil.

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