No meio da jornada
Aquicultura

No meio da jornada

Parte da estrada ainda não existe, mas a estamos construindo e seguindo em frente.

Francisco Medeiros - 21 de maio de 2019

A discussão sobre a piscicultura no Brasil é um tema que faz parte das salas de reuniões, mesas de bares, cafés e restaurantes pelo País afora, todos querendo saber se isso é um negócio bom ou apenas conversa de consultor especialista.

Três visões são essenciais para começar essa prosa.

O primeiro ambiente é o local, mas bem local mesmo, aquele ambiente que conseguimos fazer a pé nos dias que amanhecemos animados para uma corrida ou longa caminhada, região em que conhecemos as pessoas por nome, temos a alegria de cumprimentá-los com um bom dia e não somente um ato de educação.

Neste ambiente local a conversa com os descrentes é um santo remédio, isso que nos baliza para os passos seguintes. São pessoas que aumentam os problemas, mas raramente inventam e nos fornecem uma visão macro dos problemas do dia a dia que enfrentaremos pela frente.

Neste ambiente só quem está lá que sabe o que está vendo, as oportunidades e dificuldades. Muitas avaliações que ouvimos hoje sobre o negócio de piscicultura está fundamentada somente nesta visão de vizinhança, que pode estar certa, mas nem sempre.

O segundo ambiente é um pouco mais amplo, já estamos falando do Estado. Hoje quando se fala de Estado o que vem em primeiro lugar é a questão ambiental, seguida da tributária e mercado. Por coincidência ou não, os Estados que mais se destacam na produção são os que têm melhores marcos regulatórios ambientais, um forte indicativo para o setor público e privado de que é esse o principal fator a ser atacado quando se deseja estabelecer um novo negócio ou política pública.

A questão do ICMS, convenhamos, é uma pedra do sapato que está sendo retirada grão-a-grão. Ou seja, melhora, mas o incômodo continua: como é pesado conversar com o Estado. Aliás essa conversa no Estado eu não consegui entender ainda, pois os governantes reclamam da falta de recursos para pagamento de suas obrigações, os servidores desejam aumento de salário e quando eu chego lá falando que desejo transferir dinheiro para o Estado, via impostos, ele dificulta o meu negócio.

É como alguém que deseja lhe dar dinheiro, mas você cria uma série de dificuldades. Muito difícil entender essa dinâmica. Não vou nem comentar do mercado, para não complicar mais ainda.

O terceiro ambiente é o Brasil. É esse nosso “Brasilzão”, que caminha nos últimos meses em outras trilhas, mas ainda carrega consigo muito peso morto, muita ideia torta, muito carrapato sugando sangue com a desculpa de que necessitamos de uma sangria porque isso faz bem à nossa saúde. Muitas dessas ideias tortas ainda tem ouvidos por aí afora e para isso é necessário mudança urgente.

O nosso negócio de piscicultura está se transformando em negócio.

Estranha a frase acima, mas essa é a grande verdade: estamos começando a tratar a piscicultura como atividade do agronegócio que pode melhorar a vida das pessoas, seja através de empregos, geração de renda e principalmente a saúde das pessoas e dos investimentos.

Já conseguimos atrair, apesar ainda de maneira tímida, o dinheiro circulante destinado a investimentos. Muitas pessoas estão falando de peixe de cultivo, já somos proteína obrigatória nas prateleiras dos supermercados, das bancadas dos restaurantes e das geladeiras dos consumidores.

Essa é uma grande marcha, uma longa caminhada, mas já estamos na estrada e jogamos fora o endereço do passado. Parte da estrada ainda não existe, mas a estamos construindo e seguindo em frente.

Sobre Francisco Medeiros
 
  • Diretor-presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR)
 
 

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