Condições climáticas e entraves em licenciamento contêm expansão da piscicultura, diz PeixeBR
Previsão era de chegar a 700 mil toneladas em 2016, mas entraves contiveram produção em 640 mil toneladas
09 de fevereiro de 2017
O ritmo de 10% a 15% de crescimento ao ano na piscicultura brasileira teve um revés em 2016. A estiagem que derrubou a capacidade dos reservatórios desde 2015, combinada à indefinição no processo de licenciamento ambiental em vários Estados, culminaram em uma expansão tímida da piscicultura em 2016.
O cultivo de peixes em cativeiro produziu no ano passado o equivalente a 640.510 toneladas, enquanto em 2015 o volume havia sido de 638 mil toneladas – um crescimento de quase 10% ante o ano anterior. A previsão para o ano passado era chegar a 700 mil toneladas. Há dois anos, o Brasil havia produzido 578,8 mil toneladas.
Os dados foram divulgados nesta terça-feira (07/02) pelo novo Conselho de Administração da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), cujo presidente é Ricardo Neukirchner, sócio da Aquabel. Eduardo Amorim deixa a presidência, mas segue integrando o conselho.
Francisco Medeiros, mantido como secretário-executivo, apresentou um documento, intitulado “Anuário PeixeBR da Piscicultura”, que traz uma análise do cenário aquícola em 2016 em todas as regiões, com destaque aos principais Estados produtores. “De maneira geral, a seca foi muito acentuada, principalmente no açude do Castanhão, que atendia mais de 70% a 80% da piscicultura no Estado do Ceará”, relatou Medeiros.
Ele sublinhou ainda o impacto negativo da estiagem em Roraima, que atende fortemente o mercado de Manaus. “Em Minas Gerais, tivemos seca no reservatório de Furnas. Em Sorriso (MT), tivemos a paralisação de dois grandes frigoríficos e também uma questão de licenciamento ambiental, porque não são apenas as condições climáticas que impactam. Nos Estados em que isso não ocorreu tivemos crescimento acima de 15%.”
O licenciamento ambiental nos Estados e em águas da União é o maior gargalo da atividade neste momento, segundo explicou Medeiros. “Só em águas da União, existem processos, trâmites e solicitações para produzir 1,7 milhão de toneladas de peixe, mas o órgão não consegue processar a solicitação. Existe hoje estimado pela Agência Nacional de Águas uma capacidade para produzir 5,4 milhões toneladas.”
Demanda em alta
A PeixeBR defende que a atividade não cresce no ritmo da demanda, já que falta peixe no mercado – comportamento comprovado pelo alto volume de importações anuais de produtos para os quais temos soluções equivalentes, como filés brancos.
Segundo Neukirchner, a tendência é de crescimento acentuado na procura por pescado. “A grande dificuldade é crescer para atender esta demanda. Um crescimento de dois dígitos que a produção terá será facilmente absorvida pelo mercado e diminuirá o percentual de importação.”
Na visão de Medeiros, o maior rigor na fiscalização do Ministério da Agricultura sobre os filés importados vai provocar um aumento de preços destes produtos. “A diferença do filé de tilápia para o filé de peixe barato tende a diminuir. Além disso, o peixe redondo consegue chegar a um preço muito acessível.”
A PeixeBR pretende fazer uma ação de conscientização junto ao consumidor para evidenciar as diferenças entre os produtos e ressaltar a qualidade do peixe produzido nacionalmente. “A prioridade da PeixeBR é o fomento ao consumo. É uma campanha mercadológica para aumentar o consumo de peixe no Brasil, focada em pescado nacional, em cima da sustentabilidade e versatilidade das nossas espécies”, acrescenta Breno Davis, vice-presidente da entidade e CEO da Geneseas.
Para atingir a meta da entidade, que é dobrar a produção nacional em cinco anos, calcula-se um investimento necessário de R$ 7 bilhões. “O setor sinaliza que pretende investir, mas muitos estão aguardando estas definições sobre licenciamento”, diz Medeiros.
Dados e projeções
A PeixeBR decidiu fazer um levantamento próprio após constatar problemas na metodologia da Pesquisa Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE, que passou a levantar, desde 2014, os dados da aquicultura nacional. “Para se ter uma ideia, só os 10 maiores produtores de SP, nossos associados, produzem o que o IBGE diz que o Estado todo produz”, calcula Medeiros.
Ele afirmou ainda que a PeixeBR cruza informações dos produtores associados (50% do mercado) e secretarias regionais ligadas à atividade com informações comerciais de fornecedores da cadeia produtiva, como alevinos, ração, premixes e outros. O resultado é, segundo ele, um retrato mais fiel da atividade.
Veja abaixo o desempenho, por Estado, da produção nacional da piscicultura em 2016. Os dados não incluem moluscos e crustáceos.
DESEMPENHO DA PISCICULTURA BRASILEIRA EM 2016
TOTAL
578.800T
638.000T
640.510T
0,39%
2014
2015
2016
NORTE
123.500
151.600
158.900
4,81%
Rondônia
40.000
65.000
74.750
15%
Acre
5.000
6.000
7.020
17%
Amazonas
23.000
25.000
27.500
10%
Roraima
20.000
21.000
14.700
-30%
Pará
15.000
18.000
19.080
6%
Amapá
500
600
650
8,33%
Tocantins
20.000
16.000
15.200
-5%
NORDESTE
113.500
116.600
104.680
-10,22%
Maranhão
20.000
23.000
24.150
4,88%
Piauí
13.000
16.000
17.000
6,25%
Ceara
33.000
28.000
12.000
-57,14%
Rio Grande do Norte
3.000
3.300
2.500
-24,24%
Paraíba
1.000
1.100
2.500
127,27%
Pernambuco
10.000
11.000
12.100
10,00%
Alagoas
2.500
2.700
2.830
4,80%
Sergipe
6.000
6.500
6.100
-6,15%
Bahia
25.000
25.000
25.500
2,00%
SUDESTE
90.000
101.500
103.830
2,29%
Minas Gerais
25.000
25.000
23.000
-8,00%
Espirito Santo
11.000
12.000
10.800
-10,00%
Rio de Janeiro
4.000
4.500
4.630
2,88%
São Paulo
50.000
60.000
65.400
9,00%
SUL
123.000
134.800
152.430
13,00%
Paraná
75.000
80.000
93.600
17,00%
Santa Catarina
30.000
35.300
38.830
10,00%
Rio Grande do Sul
18.000
19.500
20.000
2,56%
CENTRO-OESTE
128.800
133.500
120.670
-9,61%
Mato Grosso do Sul
20.000
23.000
24.150
5,00%
Mato Grosso
75.000
74.000
59.900
-19,00%
Goiás
33.000
34.000
34.000
0,00%
Distrito Federal
800
2.500
2.620
4,8%
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