Análise da Balança Comercial de Pescado 2019 – Parte 1
Indústria

Análise da Balança Comercial de Pescado 2019 – Parte 1

Participação do pescado importado no consumo total do brasileiro em 2019 é projetada em 32% em base de pescado inteiro

Wilson Santos - 19 de fevereiro de 2020

Em uma visão macro do comércio exterior com relação a valores, se observa uma certa estabilidade nos últimos três anos e com uma indicação de tendência se confirmando em 2018 e 2019. Entretanto, ao se aprofundar nas análises, se constata grandes alterações com fortes tendências ocorrendo em algumas recursos e produtos de grande representatividade em nosso comercio externo.
 
A participação do pescado importado no consumo total do brasileiro em 2019 é projetada em 32% em base de pescado inteiro. Desta forma, uma análise mais detalhada do pescado importado reflete um perfil importante do consumidor nacional.  
 
Este trabalho tem como objetivo traçar um panorama detalhado dos pontos detectados como importantes nesta cadeia de negócios.
 
1 -  Visão Geral
Considerando o comércio total (importação + exportação) o valor médio nos últimos três anos se aproxima de 1,6 bilhões de dólares, como protagonista principal as importações que correspondem a mais de 80% do total deste setor.
 
Os gráficos da Balança Comercial abaixo, refletem todos recursos que constam do NCM nos Cap. 03 – Peixes e Crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos , Cap. 1604 – Preparação e Conservas de Peixe e o Cap. 1605 – Crustáceos, moluscos preparados ou em conservas.
 
 
 
 
A tendência verificada mostra uma queda nas importações em dólares na ordem de 4,9% em 2019 se comparando com o ano anterior, vindo de uma outra queda de 3% em 2018 se comparando com 2017. Já com relação as exportações houve aumento de 16,7 % em 2019 comparando-se com 2018,  e um aumento de 6% em 2018 comparando-se com 2017.
 
Com isto o déficit comercial teve uma queda acumulada de 20,6 % nos últimos dois anos. 
 
Com relação as quantidades, ao analisar o gráfico macro acima, precisa ser considerado que se trata de toneladas totais, com pescado em suas várias formas de apresentação. Colocando em pratica uma metodologia que equaliza a base de análise, convertendo cada forma do pescado importado em pescado inteiro, os resultados obtidos foram os seguintes:
 
2017 – 820 mil toneladas importadas 
2018 – 724 mil toneladas importadas
2019 – 641 mil toneladas importadas
 
Os números mostram o quanto é representativo o pescado importado na dieta do consumidor brasileiro, mas também apresenta uma tendência de queda. Mesmo com falta de informações oficiais sobre a pesca marítima, se projeta que o consumo per capita do brasileiro esteja na faixa dos 9,5 kg/ano.
 
Desta forma, o pescado importado em 2019 representou cerca de 32% do consumo total. Em 2018 a participação foi 38% e em 2017 era 43%. Também por este índice, as importações apresentam tendência de reduzir participação.
 
Com relação as exportações a realidade dos produtos brasileiros ofertados no mercado são dura: com exceção de poucos nichos, não temos competitividade, seja por falta de matéria prima, seja por falta de qualidade, seja por falta de entender mercado, seja pelo excesso da burocracia, seja pelo custo interno ou a impossibilidade em exportar ao mercado europeu. 
 
Fazendo uma projeção que as capturas locais incluindo a pesca oceânica, continental e a piscicultura esteja na ordem de 1.500.000 toneladas uma exportação na faixa de 40 mil toneladas representa menos de 3%. Sem dúvidas um resultado muito baixo.
 
Analisando os últimos 5 anos as exportações tiveram um crescimento acumulado de apenas 44%.
 
A realidade é que Brasil ainda não encontrou um recurso de alta competitividade para ser protagonista no mercado internacional, que pudesse assumir uma liderança forte nas exportações como existe no Salmão do Chile, o Panga no Vietnã ou a Merluza na Argentina. 
 
Com relação ao câmbio, que afeta diretamente o custo do produto importado e a rentabilidade na exportação, o ano de 2019 fechou com uma baixa variação de 3,5 % na comparação de ponta a ponta. Em 2018 esta variação foi bastante forte na ordem de 17%.   
 
2 – Importação
 
 
 
Considerando a importação em dólares, os maiores exportadores de pescado para o Brasil se mantêm inalterados e representaram 92% do total importado em 2019.
 
Importação por País - Dólares
 
Analisando individualmente o ranking, verifica-se a impressionante consistência do Chile que já alcança em 2019 uma participação de 47,8% com clara tendência de crescimento. Já a China mostra uma queda bastante representativa perdendo no ano passado o segundo posto para uma estável Noruega.
 
A Argentina também segue estável no fornecimento, e segura a quarta posição do ranking. Portugal  mantém a 5ª posição assumida em 2018. E o Vietnã, confirmou em 2019 a queda contínua na participação no mercado brasileiro.
 
Já considerando as importações em toneladas, a tabela apresenta uma novidade quando comparada com tabela de dólares, com Marrocos ocupando o segundo posto.
 
Importação por País - toneladas
 
 
A seguir, é apresentado uma análise mais detalhada nos produtos, segmentos e países.  
 
Chile
 
A potência do Chile como exportador para o Brasil pode ser ilustrada com a seguinte informação: no ano 2000 a exportação foi de U$ 37 milhões, em 2005 foram U$ 52 milhões, em 2010 foram U$ 254 milhões, em 2015 foram U$ 474 milhões e 2019 alcançou  impressionantes  U$ 606 milhões.
 
Em 20 anos a exportação em dólares para o Brasil cresceu 16 vezes.  Comparando com a Noruega, o mais tradicional exportador de pescado ao País, praticamente manteve o nível no mesmo período. E, todo crescimento Chileno está fundamentado na piscicultura com o cultivo do salmão.
 
 
 
 
O produto importado, que atualmente tem o maior sucesso no mercado é o salmão fresco do Chile que em dólares representou 41,4% da importação total brasileira realizada em 2019. A integração do cultivo desse peixe com o grande potencial de consumo do mercado brasileiro, continua avançando e ofertando ao consumidor um produto extremamente competitivo.
 
Características como: produto de excelente padrão de qualidade, diversificação de opções de preparo e consumo, facilidade de preparo, logística disponibilizando produto fresco/ conservado/ refrigerado, frequência e confiabilidade de disponibilidade, penetração na cadeia de pontos de venda e estabilidade nos preços colocam o salmão do Chile em um patamar de consumo difícil de ser batido por outras alternativas no segmento.
 
As 86.027 toneladas de Salmão fresco, importadas em 2019, representam um crescimento de dois dígitos: de 12,4% sobre 2018. Isto já vindo de um crescimento de 6,7% em 2018 se comparando a 2017.
 
Com relação aos preços, a tabela abaixo mostra a estabilidade com redução em dólares em 2019 na ordem de 7%. Desta forma, ficou praticamente anulado na conversão para reais o impacto da desvalorização cambial no ano.
 
 
Nesta faixa estável de preços, com todas características positivas e como um pescado fresco ofertado ao consumidor final ou cliente intermediário, o Salmão Fresco estabelece um mercado próprio com baixa concorrência tanto externa como interna. Resumindo: Na avaliação do consumidor, a relação custo e benefício é muito positiva. 
 
China
 
As importações de pescado da China indicam um case especial a ser analisado. Após atingir o pico máximo em 2013, se observa uma queda vertiginosa, com forte aceleração nos últimos dois anos.
 
 
 
Considerando 2019 a queda versus 2018 foi de 26% em dólares e 38% e toneladas.
 
As importações da China podem ser subdivididas em cinco espécies ou grupo que juntos correspondem a 94% do total importado no ano de 2019: Pescados Secos e Salgados, Filé congelado de Polaca do Alasca, Filé congelado de Merluza/Abróteas, Filé congelado de Bacalhau e Saithe e a Lula congelada.
 
O grupo mais representativo é a linha de Pescados Secos e Salgados, que em 2019 representaram 42% do total importado da China e apresentou uma queda em dólares de 23% se comparando com 2018.
 
 
 
Neste grupo estão incluídos pescado como Gadus, Saithe, Zarbo, Ling e outra classificação denominado de Outros Pescados.
 
A queda representativa de 38% em dólares ocorreu com os chamados Outros Pescados Salgados e Outros Files de Pescado Seco.
 
 
O diagnóstico passa pelo aumento em dólares, pela falta de identidade de Outros Pescados Secos e Salgados para os consumidores e percepção de produto de menor qualidade quando comparado com produtos similares já tradicionais no mercado brasileiro.
 
O segundo item em importância foi o chamado Filé de Alasca Polaca ou também conhecido como Filé de Merluza do Alasca. A participação em dólares em 2019 foi de 28% sobre o total importado da China, mas apresentou em toneladas, uma forte queda de 35% se comparando com 2018.
 
Nesta linha de produto (Filé de Pescado Congelado) existe uma acirrada disputa no mercado com várias alternativas como a Merluza da Argentina, Merluza da própria China, Panga do Vietnã e a emergente Tilápia brasileira entre outros pescado.
 
Especificamente, na linha Filé de Polaca do Alasca, o produto sofreu aumento de preço constante nos últimos três anos, um forte motivo na perda de competitividade.     
 
 
 
Outro importante item na pauta das importações é o Filé de Merluza/Abróteas que em 2019 representou 10% das importações com uma queda em toneladas de 18%.
 
Os comentários realizados no item anterior servem para as análises neste item.
 
 
 
 
 
A Lula Congelada participou com 11% na importação total da China em 2019, com queda de 16% em toneladas com relação ao ano anterior.
Neste item o mercado brasileiro se manteve constante e a perda foi direta ao concorrente Peru que aumentou a exportação ao Brasil. 
 
 
 
 
O grupo do Bacalhau congelado envolve espécies como o Gadus, Ling, Zarbo e Saithe, que em 2019 representou em dólares 4% da importação com queda de 35% sobre 2018. O produto Saithe congelado foi responsável por 64% dentro deste grupo, mas teve queda de 28% em toneladas em 2019.
 
 
 
 
 
Noruega
 
O país é o mais tradicional exportador de pescado para o Brasil com sua linha de peixe salgados e secos das espécies Gadus, Ling, Zarbo e Saithe. A linha em 2019, representou 95% do total de pescado exportado pela Noruega para aos brasileiros.
   
A estabilidade mostrada nos gráficos abaixo, evidência a realidade destes produtos no mercado nacional e a falta de novidade na entrada de outros produtos. Chama atenção que estas mesmas espécies são exportadas ao Brasil na forma de congelado, mas neste caso a liderança pertence a Portugal.
 
Interessante colocar que já no ano de 2000 os valores são idênticos. A estabilidade existe, mas o consumo per capita reduz lentamente: em 2000 era 149g per capita por ano e em 2019 fechou com 126g, ou seja, uma redução de 15% em 19 anos. A Noruega no ano passado ganhou a segunda posição nas exportações em dólares ao Brasil, mas o real motivo foi a queda da China e não o avanço dela.  
 
 
 
Argentina
 
Com recurso natural e benefícios alfandegários (por estar no Mercosul e proximidade física do grande mercado brasileiro), a Argentina é forte exportadora de pescado para Brasil, com carro chefe o Filé de Merluza/Abrótea congelados. Em 2019, somente este recurso representou 85% do total exportado por aquele país aos brasileiros, com um crescimento de 15% se comparando ao de 2018.
 
Conforme já comentado na análise da China, o mercado de Filé Congelado é altamente disputado e o produto Argentino assumiu a liderança representando 44% de todas importações neste segmento. São os Filés de Peixe congelados com preços FOB na faixa de U$3 kg.  
 
 
 
 
 
Portugal
 
Tradição nas exportações e com forte estabilidade nos últimos 3 anos, Portugal continua com sua linha de produtos no mercado local. Em 2019 representou 7% do total das importações brasileiras. A linha de bacalhau tipo Gadus e Saithe congelados é o principal produto e representam 56% do total importado daquele país.
 
Em segundo aparece estas mesmas espécies na forma de seco-salgado com 20% de participação. Outras participações em 2019 foram do Cação Azul Congelado em suas várias formas com 9% e Outras Preparações de Conservas com 7%. 
 
 
 
 
 
 
Com relação aos preços, se observa uma constante elevação em dólares, entretanto na linha principal de Bacalhau Gadus congelado, Portugal tem praticamente 100% do mercado. Já na linha do tipo Gadus seco/salgado, tem 22% 68% do produto da Noruega. Nesta linha, os preços praticados em 2019 de ambos os países foram similares.
 
Sobre ao Cação Azul, são produtos para competir na linha dos Filés congelado e precisando operar abaixo destes para se manterem competitivos. Neste item, o principal concorrente é o produto do Uruguai. Ambos países praticamente apresentaram em 2019 uma mesma participação na faixe de 37% do total importado.
 
 
Vietnã
 
A importação de filé de pescado congelado do Vietnã é relativamente recente, surgiu em 2009 e alcançou seu pico máximo em 2014 com  U$129 milhões. Cresceu na base do forte desenvolvimento da piscicultura local e especificamente com a espécie que por aqui é conhecida como Panga. 
 
Teve uma queda grande nos últimos dois anos, com 38% em 2018 e 24% em 2019, o que levou o país a fechar em impressionantes 71% de declínio em toneladas no período.
 
Como já comentado a concorrência neste nicho de mercado é muito grande e se observa neste recurso o mesmo perfil verificado como Filé de Alasca Polaca da China.
 
 
Marrocos
 
A importação realizada do Marrocos tem como característica ser 99% de sardinha congelada. Cerca de 97% do total importado é direcionado para indústria de conservas. Em toneladas, o país ocupa o segundo posto nas exportações ao Brasil, representando 20% de toda importação realizada.
 
 
Marrocos é o maior fornecedor deste recurso para indústria de conservas e em 2019 representou 86% do total importado pelo Brasil deste insumo.
 
A quantidade importada, tem uma relação direta com a queda da captura local do recurso. Como exemplo a média das capturas dos últimos três anos foi 18 % em relação a 2014.
 
Equador
 
A principal característica do Equador dentro das exportações ao Brasil é ter representatividade no Cap.1604 – Preparação e Conservas de Pescado maior do que o Cap. 03 – Peixes e Crustáceos, Moluscos.
 
 
Tal característica associada a outras, como por exemplo ser um grande player mundial na linha de atum e cultivo de camarão, acordos comerciais entre Mercosul e Grupo Andino que isentam de imposto de importação e com algum recurso natural, colocam o país com potencial de exportação ao mercado brasileiro.
 
No Cap.1604, o Brasil importa conservas de atum e matéria prima atum, principalmente o skipjack que é apresentado tanto na forma de inteiro congelado ou também na forma de Lombo Cozido Ralado Congelado.    
 
 
Entretanto, como o número de classificação NCM é o mesmo para conservas e para este Lombo Cozido Congelado, é impossível ter conhecimento qual a participação de cada um destes itens.
 
Usando um modelo matemático, projeto que conservas de atum importada do Equador representaram em 2019 cerca de 12% do mercado brasileiro. Cabe salientar que o mercado mundial trabalha com diferentes classificações nestes produtos e seria aconselhável o Brasil seguir os padrões mundiais.
 
Ainda dentro deste capítulo ocorre importação de conservas de Sardinha tipo Laje, que é a espécie existente no Equador. Esta importação em 2019 foi o equivalente a 1,3 milhões de latas com 125g, o que significa menos de 0,5% do mercado brasileiro. Já no Cap. 03, o Equador em 2019, exportou 5.754 toneladas de Filé de Merluza com preço médio de U$ 2,93 kg que o coloca competitivo nesta faixa de mercado, como já comentado.
 
Tailândia
 
A Tailândia entra com o produto classificado no Cap. 604 com Preparações de Conservas de Atum, é basicamente o chamado Lombo Cozido Ralado Congelado, recebido pela indústria de conservas local pronto para ser enlatado. Esta matéria prima compete diretamente com atum capturado localmente e em 2019 representou uma equivalência de 11 mil toneladas de atum inteiro.  
 
 
O país é o maior produtor de conservas do mundo e tem uma grande disponibilidade desta matéria prima, mas com as recentes capturas de atum na região nordeste, o produto brasileiro começa a competir no mercado, principalmente por apresentar uma qualidade bem superior a  tailandesa.  
 
Filé de Pescado Congelado e Resfriado
 
Conforme colocado em comentários anteriores, este importante mercado tem diversos players competindo, principalmente na faixa de produtos que se apresentam ao consumidor com R$ 40 kg. O quadro abaixo mostras as importações consolidadas e o total de 63.190 toneladas representa 83% de todas importações de filés de pescado em 2019.
 
Produtos da Argentina, China, Vietnã, Equador e Peru são players importantes neste acirrado mercado.
 
Em 2017, o total destes itens importados foi de 96.302 toneladas, ou seja, ao comparar 2019 e 2017 ocorreu uma queda significativa de 34%. A diferença foi concentrada nos produtos asiáticos com uma queda de 49%. Já os produtos da Argentina, Equador e Peru tiveram declínio de apenas 4%.
 
O principal diagnóstico é que um novo e forte player surge neste segmento: o Filé de Tilápia nacional processado por grandes grupos tanto na forma de congelado como na forma de resfriado em embalagens especiais.  
 
 
Uma projeção sobre o tamanho total deste mercado de Filés de Pescado resfriados e congelados apontam para valores acima de 150 mil toneladas no ano.  
 

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Sobre Wilson Santos
 
  • Engenheiro Industrial Químico e Diretor Industrial da Coqueiro- Quaker por 25 anos. Atualmente na área de consultoria com empresa WS Consultoria. wsconsul58@gmail.com
 
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